quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Transporte tradicional Aracaju-Barra corre risco de desaparecer

Por: Daniel Nascimento, Eloy Vieira, Igor Bacelar, Joanne Mota, Manoela Veloso e Thiago Vieira

Travessia de barcos Aracaju/Barra. Mesmo com a ponte a população ainda prefere usar o chamados 'Tototós'


“Quando a rua começa a se movimentar sei que mais um dia já começou e mais uma vez tenho que ir até o portinho para ligar o motor do barco e começar mais um dia de luta”. Esta foi a declaração do barqueiro e morador da Barra dos Coqueiros Ariosvaldo Euclides dos Santos, ao narrar a rotina que traça há 46 anos no trabalho de transporte marítimo de pessoas que utilizam os ‘tototós’ como meio para se locomover no trajeto Barra/Aracaju/Barra.

Segundo ele, esta é uma profissão muito antiga e que já rendeu muito dinheiro para quem negociava neste ramo. “Teve dias de eu só precisar trabalhar até as 10 horas da manhã, nesta hora eu já tinha ganhado o dia de trabalho. Em 1964, este trabalho pra mim era o melhor, ter um barco me animava muito”, explica o barqueiro.

Morador da Barra do Coqueiros,
Ariosvaldo é barqueiros desde 1964 
Triste e desacreditado do seu ofício, Ariosvaldo diz que diferentemente dos anos anteriores, hoje não se tem o mesmo faturamento de antes e um dos motivos foi o avanço do progresso sem olhar para os comerciantes antigos da região da Barra dos Coqueiros. Além de criticar o descaso das prefeituras de Aracaju e da Barra e do Governo do Estado no que se refere a políticas públicas de apoio.

“A ponte Aracaju/Barra (Construtor João Alves) trouxe muitos benefícios para a Barra, mas acabou com o trabalho dos barqueiros. Hoje, com a ponte a gente gasta uma semana de trabalho para ganhar o que conseguimos numa manhã de transporte. E as prefeitas e nem o Governo estão ligando para os barqueiros”, desabafa Ariosvaldo.
Com embarcações que comportam de 15 a 70 pessoas, além do comandante e marinheiro, tripulação exigida para o funcionamento do barco, 24 barqueiros lutam para manter este serviço e atender aos usuários que dizem gostar de usar o serviço.

Mesmo com a gratuidade no transporte urbano,
o aposentado prefere fazer a travessia de barco
Para o usuário Luiz dos Santos, morador da Barra há 12 anos, o transporte nos to-to-tós mais tranquilo, além de ser uma coisa tradicional para a Barra. “Sou aposentado e não pago mais passagem, mas prefiro para os to-to-tós a usar o serviço de transporte público. Penso que as prefeituras deveriam olhar para este setor que está esquecido e corresponde a um traço cultural da Barra”, salienta Luiz.

Alberto Santos Cruz, barqueiro há 5 anos, explica que entrou no ramo por conta do pai, também barqueiro por muitos anos. Ele diz que hoje a profissão passa por muitas dificuldades, e a construção da ponte contribuiu ainda mais na piora da situação.

Barqueiro Alberto Cruz atravessa o rio pela X vez


“O trabalho hoje é muito difícil, a gente cobra um rela por passageiro e isso é para fazer a manutenção do barco, pagar o combustível, o marinheiro e sustentar a família. Por isso muitos companheiros têm que ter dois empregos ou fazer bico para conseguir sobreviver”, desabafa ele.  
Os barqueiros também informaram que o único acompanhamento que possuem hoje é da Capitania dos Portos, seja na orientação da profissão seja nos itens que se refere à segurança de quem usa o serviço.

Depois da construção da ponte Construtor João Alves, o trabalho dos
barqueiros é cada vez mais raro

Até o fechamento desta matéria não conseguimos informações com a assessoria da Capitania dos Portos para saber como se dá o acompanhamento dos barqueiros tanto na fiscalização como na orientação de trabalho. 

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