quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O calçadão da João Pessoa e suas personagens

Calçadão da João Pessoa.


    por Anne Samara, Larissa Regina e Lorena Larissa

   Construído no final da década de 1970, pelo então prefeito de Aracaju, João Alves Filho, o Calçadão da Rua João Pessoa recebe todos os dias inúmeras pessoas. Lá circulam vendedores formais, ambulantes, consumidores, pedintes, policiais... Enfim, uma variedade de personalidades.

  No entanto, os que andam apressadamente sobre aquelas pedras portuguesas muitas vezes não percebem as pessoas que passam entre eles ou mesmo em sua margem. São estas figuras constantes no calçadão e que mesmo despercebidas estão lá diariamente, seja para trabalhar ou apenas para encontrar os velhos amigos.

O aposentado Miranda Batista e o engraxate Denival Souza: figuras típicas do calçadão

   Dois exemplos dessas figuras típicas do Calçadão são o senhor, que vem em busca de conversa com os colegas e do engraxate, que ainda tem nesse grupo seus principais clientes. E foi justamente isso que afirmou o aposentado de 65 anos, natural da Bahia e morador de Aracaju há 40 anos, Miranda Batista, enquanto engraxava seus sapatos: “Por aqui não tinha quase nada quando eu cheguei, não tinha calçadão, não tinha hotel. Com o tempo fui fazendo amigos e até hoje a gente se reúne por aqui pra colocar a conversa em dia e lembrar dos velhos tempos”. Já o engraxate Denival Andrade Souza, de 30 anos, parece agradecer por isso: “Acho que uns 70% do que eu ganho é engraxando os sapatos dos senhores. Gente nova quase nem usa mais sapato”, afirma.

O ambulante Raimundo da Silva e seus produtos
   Quanto ao comércio, não é só o legal que movimenta o centro da cidade, diversos autônomos que vendem seus produtos, muitos deles ilegais, também já estão enraizados por ali. Em conversa com eles é possível descobrir que a história de alguns está tão profundamente ligada ao calçadão que muitos trabalham lá para, além de ter uma renda extra, se distrair. Esse é o caso do ambulante Raimundo Bezerra da Silva, de 60 anos, vítima de paralisia infantil: “Eu trabalho aqui desde quando era só a rua João Pessoa. Esse calçadão foi também meu nascimento. Ele representa tudo pra mim, é minha alegria, meu lazer, minha distração. Todo o dia eu tô aqui, só não venho quando estou doente”, diz ele.




Flávia Medeiros ri por consegui aproveitar as vantagens do trabalho.

   Quem também gosta de trabalhar pelo calçadão é a vendedora de cartão de crédito, Flávia Medeiros, 31, que está nesse setor há quatro anos e que, apesar de abordar e ser abordada por pessoas com os mais diferentes tipos de humor, consegue encontrar e aproveitar as vantagens de se trabalhar na rua, em pleno comércio. “Eu gosto. Gosto da liberdade. Trabalhar aqui é melhor do que ficar presa dentro de uma loja. Eu trabalho e posso sair ali, ir até a esquina, olhar uma vitrine”, comenta ela, deixando escapar alguns risos tímidos.
   
   Mas nem todos desses personagens que estão constantemente pelo calçadão podem aproveitar para ter algum tipo de lazer ou descontração. O menino Renato (nome fictício), de apenas 14 anos, diz que está ali só para pedir dinheiro: “Tem uns que dá, outros não dá não” (sic). Ele nunca estudou, não sabe ler e dorme por ali mesmo, sem ser notado ou receber a atenção necessária, de qualquer pessoa que seja, para sua situação.

Quem não encontra prazer algum à margem da sociedade
    Assim, entre a multidão de transeuntes que passa em grande afã diariamente pelo Calçadão, quase quarentão, da rua João Pessoa, ainda é possível encontrar abandono, solidão, alegria, bom humor, calmaria, recordações entre outros sentimentos e sensações mais. É só parar por alguns instantes e simplesmente perceber o calçadão e as suas mais diversas personagens.

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