quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A preservação da vida marinha na costa sergipana

Trabalho em conjunto de órgãos do governo, institutos de preservação e pescadores salvam, a cada ano, centenas de animais marinhos no estado.

por Larissa Regina, Lorena Larissa e Anne Samara
texto por Anne Samara


Tartaruga verde.
Larissa Regina

   A costa sergipana, assim como todo o litoral brasileiro, é repleta de vida. No entanto, até a década de 1970 não havia registro de qualquer trabalho de conservação marinha seja no estado, nem mesmo no país. A pesca e a matança predatória de várias espécies de animais resultante, muitas vezes, da falta de informação e de consciência ecológica por parte dos pescadores já vinha ameaçando diversos ecossistemas.
Lagosta.
Foto: Larissa Regina
   Em nível nacional, até 1980, não havia nenhum órgão reconhecido por lei que promovesse a conservação e proteção do ambiente aquático. O que somente existia era a Superintendência do Desenvolvimento da Pesca - SUDEPE, uma autarquia vinculada ao Ministério da Agricultura criada apenas para dar incentivos fiscais e fomentar o desenvolvimento econômico, além de algumas outras áreas que cuidavam do ambiental em diferentes ministérios e com diferentes visões, muitas vezes até contraditórias.

Cavalos Marinhos
Foto: Anne Samara
   Foi somente depois da Conferência das Nações Unidas para o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo (Suécia), em 1972, que houve uma forte pressão feita pela sociedade nacional e internacional para que o Brasil passasse a fazer a gestão ambiental de forma geral e integrada. Dessa forma, houve a junção, em 1989, de órgãos do governo federal voltados para o meio ambiente, inclusive o SUDEPE e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal-IBDF, para a criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Entretanto, o IBAMA não podia oferecer toda a assistência necessária que o ambiente marinho precisava e, desde 1980, através do antigo IBDF, que apóia e é apoiado pelo Projeto Tartaruga Marinha – TAMAR.
Tartaruga verde nada nos tanques dos tubarões-lixa.
Foto: Anne Samara
   O TAMAR, criado em 1980, tem até hoje a missão de proteger as 5 espécies de tartarugas marinhas que habitam na costa brasileira e que estavam praticamente em risco de extinção, seja pela sua captura acidental durante as pescas ou pela matança das fêmeas e a coleta de seus ovos nas praias. Porém, com o passar do tempo, foi percebido que o trabalho não poderia ser restrito apenas às tartarugas, era preciso o apoio e a colaboração das comunidades costeiras para que se alcançasse um desenvolvimento sustentável.
Demonstração da desova.
Foto: Lorena Larissa
   Foi então em Sergipe, mais precisamente no município de Pirambu, que o TAMAR instalou sua primeira base, em 1982, cuidando das 4 espécies que desovam no local (Oliva, Cabeçuda, Verde e de Pente), monitorando 53 km de praias e protegendo quase 2.400 desovas e 106 mil filhotes a cada temporada, que vai de Setembro à Março.  No entanto, antes da implantação da base do TAMAR, Pirambu se destacava como principal fornecedora e consumidora dos ovos de tartaruga, pois praticamente todas as desovas eram coletadas pelos pescadores locais para serem consumidas ou vendidas.  “Quando o TAMAR chegou aqui encontrou praias extensas e quase nenhuma informação sobre tartarugas marinhas. O hábito local de utilizar-se dos ovos das tartarugas como aperitivo trouxe conseqüências sérias para a conservação: toda uma geração de Pirambu nunca tinha visto um animal”, explica a coordenadora da base de Pirambu e responsável pela Inclusão Social do projeto em Sergipe, Jamyle Argôlo.
Alimentação dos peixes aberta ao público.
Foto: Larissa Regina
   Hoje os pescadores, que antes eram os maiores predadores, são parceiros na proteção e conservação das tartarugas marinhas, constituindo, junto às comunidades costeiras, a maioria da equipe (85%). “Vê-se os pescadores como parceiros nos trabalhos. Desde o início, o TAMAR tem empregado os pescadores como ‘Tartarugueiros’, pessoas que percorrem a pé ou de bicicleta as praias de desova. O TAMAR envolve também as esposas desses pescadores nos trabalhos de bordado e crochê pelo projeto de Inclusão Social”, afirma Jamyle.
Lojas com produtos que carregam a marca TAMAR.
Foto: Anne Samara
   Dessa forma, muitas esposas de pescadores tornam-se fornecedoras de várias das peças comercializadas nos pontos de venda localizados em áreas turísticas, como é o Oceanário de Aracaju. “As peças que vendemos aqui vem de Pirambu e também do Espírito Santos e todo o dinheiro arrecadado vai para o projeto geral, tanto para cuidar das tartarugas como para ajudar as comunidades costeiras”, confirma Liege Nunes, vendedora do Oceanário.
Oceanário de Aracaju.
Foto: Larissa Regina
   O Projeto TAMAR é vinculado à Diretoria do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade-ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente e também é co-administrado pela Fundação Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa das Tartarugas Marinhas-Fundação Pró-Tamar, instituição não governamental, sem fins lucrativos. Essa união do governamental com o não-governamental revela a natureza híbrida do projeto que põe a proteção da vida marinha acima de acordos públicos ou particulares.
Bióloga instrue visitantes no manuseio dos tubarões-lixa.
Foto: Lorena Larissa
   Além do TAMAR, Sergipe conta com outros órgãos e instituições de preservação do meio ambiente como o Pelotão da Polícia Ambiental, criado em 1996, que apóia e auxilia os órgãos ambientais competentes como o IBAMA e órgãos não-governamentais e o Instituto Mamíferos Aquáticos – IMA, organização que nasceu em 1995 em Salvador e hoje tem sede em Sergipe, fazendo pesquisas e buscando a conservação dos mamíferos aquáticos e dos ecossistemas costeiros no litoral tanto da Bahia como de Sergipe. E é assim, através do trabalho integrado das empresas, das instituições e da própria população que o caminho para a preservação de nossos ecossistemas marinhos vai a passos cada vez mais largos.

O RETRATO DA VIDA MARINHA BRASILEIRA
Filhote de tartaruga com amputação na pata direita.
Foto: Larissa Regina
   É um filhote de Tartaruga verde encontrada por um pescador em Aracaju. A amputação da nadadeira não foi um fator preponderante para sua chegada no oceanário, visto que quando chegou a amputação já estava completamente cicatrizada. Provavelmente o animal interagiu com material de pesca que pode ter causado a perda da nadadeira.

Para denúncias de capturas ilegais ou de animais doentes, mortos ou encalhados na praias sergipanas entrar em contato com o IMA, através dos telefones (79) 9987-7424/ 9987-7428, Pelotão Ambiental (79) 3243-2102, Ibama (79) 3211-1573/ 3211-1574 ou Tamar (79) 3243-3214/3243-6126

SAIBA MAIS:
http://www.tamar.org.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Projeto_TAMAR

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