segunda-feira, 18 de julho de 2011

"Olhe pra cima"


O projeto “Olhe pra cima” foi criado em 2010 pelo aluno de jornalismo Daniel Nascimento. O primeiro ensaio foi criado naquele mesmo ano no centro de Aracaju e o segundo foi lançado online esse mês.

Realizado entre as praças Fausto Cardoso e Teófilo Dantas, o ensaio trás uma série de fotos com ângulos altos. O objetivo é registrar de uma forma artística a arquitetura.

A ideia surgiu da observação da quantidade de detalhes existentes na arquitetura do centro da capital sergipana. Esse novo ensaio foi realizado com equipamento digital, diferente do primeiro, que foi analógica.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Brinquedos, cores, texturas

por Fabiana Molina













Museu a céu aberto - Aracaju - Ensaio fotográfico

texto e fotos - André Teixeira

Encimada no pedestal ornado em mármore escuro, a escultura em metal reluzia até
meados de 2009, já sem placa de identificação. Dela desde então não há notícia.
Eis o paradigma negativo da conservação das obras de arte em espaço público.
Local: Entre o Ginásio Constâncio Vieira e a Biblioteca Epifânio Dórea, São José.




A índia serigy, representante dos nativos sergipanos, perdeu a cabeça há muito.
Em seu colo, ninava a estátua já inexistente de um bebê. De seu colo hoje cresce,
poetica e tristemente, uma planta não identificada. Ao seu lado, o Cacique Serigy (ver foto
no álbum Picasa) Local: Pç da Catedral, Centro. 

Flores ao General Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão, duas vezes governador
de Sergipe, de 1894 a 1896 e de 1914 a 1918. Natural de Vila Nova, atual Neópolis/SE.
Local: Centro histórico de Aracaju.
Detalhe do painel em cerâmica feito por Jenner Augusto em 1957.
Localizado na esquina da rua João Pessoa com Pç Olímpio Campos.

Casal de camponeses. Praça Princesa Isabel (ou Pç do INCRA). Sem identificação,
ambas esculturas apresentam 'fraturas expostas'.  Provavelmente o autor da peça,
já descaracterizada de quando feita, é Deolando Vieira.
Obelisco em homenagem aos marinheiros sergipanos mortos na 2ª Guerra.
Pichações, ausência de placas e má conservação. Fica localizada na
pç dos Expedicionários, bairro Getúlio Vargas, defronte à FCA-SE
A padroeira de Aracaju, N. Srª da Conceição, no Parque da Cidade. Vista
para a foz do Rio Sergipe. Autora: Vera Toledo, 2006. Altura: 10m.

Painel "Fragmentos da Cultura Sergipana", elaborado pelo grupo de pesquisa
do 5º período de letras/UNIT, sob orientação das professoras Elliana Souza
e Christianne Gally, em 2007. Localizado na Rua Simão Dias.

Busto do patrono da Marinha do Brasil, Joaquim Marques Lisboa,
o Almirante Tamandaré, localizado na praça de mesmo nome.
Sem identificação. Bairro São José.

Autoria de Chagas, um dos mais presentes grafiteiros em Aracaju. A maioria
dos seus trabalhos pode ser vista no blog Chagasgraf
'Peixe', de Eurico Luiz, autor de várias outras obras
em Aracaju. Deve sofrer reforma da mesma forma
que o seu entorno, o calçadão da Beira Mar. Outra
obra localizada no mesmo calçadão encontra-se
recolhida: o busto em homenagem ao cantor e
compositor Antônio Teles.

Eis o paradigma positivo das obras de arte em espaço público: bem conservada e
devidamente identificada: a obra 'Viver Aracaju' é de autoria de Lau. Situada na
pç Getúlio Vargas, também conhecida como 'do Mini-Golf'.

Outras obras podem ser visualizadas no site Picasa, no álbum Projeto Museu a céu aberto. A intenção é até o final do ano postar as fotos de todos as obras de arte expostas em locais públicos. O projeto aceita colaborações: Indicações sobre obras não mapeadas em Aracaju, bem como a autoria das que fazem parte do ensaio que não possuem tal indicação.

Outra etapa do projeto é reelaborar seu texto, com intuito de dar prosseguimento às duas etapas seguintes. 

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O projeto caju na rua e as efemeridades da arte


A necessidade de o homem se expressar artisticamente nasceu antes mesmo do mais arcaico conceito de 'Arte'. Provavelmente os utensílios manuais e as pinturas rupestres, como as do complexo de cavernas Lascaux, na França, datadas de mais de 15.000 anos de idade, significavam algo para quem as fez. O quê, não podemos saber, apenas supor que sua feitura, espalhada por milhares de sítios arqueológicos por diferentes povos, incomunicáveis por qualquer via, era de tal forma impossível de se deixar exprimir.

Detalhe da obra de João Valdênio, no Centro Cultural J. Inácio, na Atalaia.

Fábio Sampaio e seu caju,
na Alameda das Árvores
no bairro Grageru.
Os fazeres manuais do pleistoceno superior se transformaram no que pode ser considerado 'fazer artístico' dos nossos dias. Mas, qual o sentido da arte? Nietzsche diz que a arte deve, "antes de tudo, em primeiro lugar, embelezar a vida". Nesse sentido o artista plástico Fábio Sampaio, santista radicado em Aracaju, apresenta-nos o projeto Caju na Rua, embelezando a cidade com esculturas de cajus customizados por artistas plásticos residentes em Sergipe. Pela repercussão positiva encontrada tanto na mídia impressa e digital, pode-se dizer que os executores do projeto conseguiram seu intento: embelezar um pouco mais algumas ruas e locais de Aracaju. 

Os cajus foram idealizados para a primeira Virada Cultural de Aracaju, depois para junho de 2010, mas sua exposição se deu apenas em fevereiro de 2011. Aliados a Fábio, a Agência de Comunicação Voz e Gafaio Soluções Artísticas contaram com o apoio da Construtora Celi e da Prefeitura de Aracaju.

Caju (parte superior esquerda) visto do Mirante da 13 de Julho, por Hortência Barreto.

O motivo 'caju' foi escolhido por ser um dos símbolos da capital sergipana. A princípio haveria um estudo sobre a duração da exposição. Pensou-se em deixar os caju por mais tempo do que os cinco meses previstos, mas seguindo o princípio da intervenção urbana Cow Parade, que norteou Fábio Sampaio na conceituação desse projeto, os cajus serão retirados ainda no mês de julho de 2011.

Vista da colina do Santo Antônio, onde o maruinense Cruz afixou seu caju. 
Serão retirados, sim. Mas para quem os viu, sua forma ainda ocupará os espaços na cabeça dos passantes que, ao de novo passarem pelos locais, (provavelmente) se perguntarão "Cadê o caju que estava aqui?!". Essa mesma pergunta me faço quanto a uma anterior intervenção urbana do Fábio. Uma escultura apenas, na parede do Hotel Palace, cruzamento das ruas Geru com Itabaianinha, defronte ao Ed. Maria Feliciana. Um ciclista em sua bicicleta, feitos em fibra de vidro também, fora instalado na parede do hotel. Toda vez que passo por lá olho para o alto à procura do ciclista, e sempre vejo sua silhueta desenhada invisível no espaço.

O caju customizado por Alan Adi fica no Bairro Industrial.
Como diria Michel Maffesoli no livro 'Saturação', Não será isso a ambição de toda arte: tornar visível o invisível? Ou ainda, no sentido inverso do lamento da abordagem crítica que leva à inércia do espírito, retroceder do derivado ao essencial. Além da simples cronologia, perceber aquilo que, de modo oculto, destina-se a ser. O eixo teórico dessa sensibilidade: é na sombra que se oculta a verdade das coisas.

Fábio Sampaio com seu projeto pretende provocar, além da presença física dos cajus, com sua ausência! Instigar e forçar a lembrança das pessoas. Fazer com que os frutos símbolos da capital sergipana, mesmo que desdobrados de sua imagética original perverta-se na lembrança dos indivíduos que visitaram-nos e lembram mais ou menos, ou ainda dos que não viram de perto, possam apenas supor como seriam tais obras.


Artista: Madureira Localização: Parque da Sementeira


Fábio tem a intenção de retornar em 2012 com o Caju na Rua ampliado. Ocupando mais espaços. Seriam entre 20 a 30 cajus, consequentemente privilegiando outros bairros de Aracaju. "Todo ano esperamos Forró Caju, Pré-Caju, por que não esperarmos o Caju na Rua?


Detalhe da obra de Fabião, no aeroporto de Aracaju.
Trabalho de Edidelson Silva, na Passarela do Caranguejo, praia de Atalaia.
O inconfundível traço de Zé Fernandes adorna o caju localizado no Mercado do Centro Histórico .
Elias Santos pintou o caju situado nas proximidades do Parque dos Cajueiros.


Outras fotos desse projeto podem ser visualizadas no álbum Caju na Rua, disponível no site Picasa. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Pilhas de lixo tecnológico dividem espaço com o mato na UFS

Por Daniel Nascimento

Enquanto o mundo discute suas ações ambientais, a Universidade Federal de Sergipe (UFS) implanta um sistema de coleta seletiva na Cidade Universitário José Aloísio de Campos. Ao mesmo tempo, a Prefeitura do campus armazena de forma irregular uma grande quantidade de materiais que deveriam ter sido jogados fora ou ter outro destino.



Lixo eletrônico, moveis velhos e restos de materiais, como rolos de filme, e até de uma maquete estão entulhadas em meio ao mato. Acumulando água, o "lixo" serve de criadouro para muitos mosquitos. Mas o que mais impressiona a quem passa atrás dos depósitos da prefeitura são as pilhas de carteiras que apodrecem e enferrujam na chuva.






sábado, 2 de julho de 2011

Ecos e repercussões da ocupação na reitoria da UFS 2011.1


Did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?
(Waters e Gilmour, 1975)

A luta por melhores condições em todas as esferas da vida social sempre se fez presente na pauta das reivindicações das associações livres da sociedade civil. Entre as diversas articulações municipais, estaduais, federais e internacionais, o que se vê, fazendo um recorte na mídia jornalística, é uma aparente maior e melhor organização dos diversos setores civis. Como importante coadjuvante dessa organização, as redes e mídias sociais registram e divulgam as ações que na maioria das vezes tem pouca ou nenhuma relevância para a grande indústria da mídia. Como parte desse registro, fotografamos alguns dias da recente manifestação dos estudantes de comunicação social da Universidade Federal de Sergipe, que entre 30 de maio e 10 de junho de 2011 ocuparam sua reitoria como forma não só de exigir melhorias educacionais quantitativas, e garantir através de audiência no Ministério Público Federal de Sergipe que tais exigências sejam cumpridas, com intuito que as melhorias educacionais almejadas sejam também qualitativas.

Último dia da ocupação, estudantes celebram vitória junto ao MPF-SE
Foto: Manuela Veloso

O estopim desse episódio, um entre muitos de ocupação da reitoria da UFS em seus 43 anos de existência, foi aceso em 2009, quando fora iniciado um processo de avaliação do curso que resultou num dossiê que tanto apontava os déficits como indicava soluções, praticamente as mesmas indicadas no Manifesto dos estudantes de Comunicação. De lá para cá o que foi feito se arrastou no passo da burocracia estatal de praxe. Houve necessidade de se abrir novos processos de licitação para concluir algumas obras abandonadas, além da abertura de novos cursos e novas turmas, contempladas com os mesmos déficits. Depois de toda essa pressão, a bolha finalmente estourou.

Jaciara, estudante de biologia solidária à causa dos estudantes de comunicação
social, é aplaudida ao final de sua fala dirigida ao Magnífico Reitor Josué Modesto, 
onde pediu providências urgentes "porque não aguentamos mais!" Dia 31/05
Ao fundo, André Cerqueira fotografa esse momento da ocupação para o texto
Segurem o Gato preto, de Lorena Ferro em postagem para o FotografiaUFS.
Em primeiro plano, Pedro Alves, atualizando o blog #ChegaDeMigalhas, enquanto
professor Cesar Bolaño ministra aula de economia da comunicação. Outros professores
levaram seus alunos para assistir aulas no mesmo espaço. 

Uma ocupação consiste basicamente em que os alunos reivindicantes ocupem os espaços administrativos da instituição com fim de, pacifica e ordeiramente, impedir seu funcionamento. Outras universidades tiveram suas reitorias ocupadas nesses últimos 5 anos. PUC-SP, USP, UFBA, UnB, UFAL, UFC, UFPB, UNICAP, UFAM, FSA, UFESUFMG, UFJFUFRJ, UFMS, UFMT, UFRGS, UFSMUFF, UESC, UFMA, UFPE e UNICAMP.

Dessas, que somam 23,  a única que tinha reivindicações diferentes foi a particular PUC de São Paulo, onde o que se pedia era a redução da mensalidade. As demais tinham praticamente as mesmas exigências, que se alternam entre retomada ou início de reformas estruturais, aquisição de equipamentos, contratação de professores,  moradia universitária. Se comparássemos a educação com um avião, dir-se-ia que de longa data ela voa caindo aos pedaços e com excesso de carga. Coincidentemente ou não, de uma maneira ou de outra essas ocupações todas contestam a política do REUNI, instituído em 2007 e tem o lema "Reestruturação e expansão das universidades federais". Pelas exigências quase oníssonas dos alunos, pode-se aferir que se evidencia uma contradição no lema?

Alunos de vários cursos vieram à reitoria durante a ocupação prestar solidariedade
aos alunos ocupados.

Os estudantes ocupados da UFS exigiam o que está expresso resumidamente na fala da estudante Talita Moraes. Caso queira se aprofundar na pauta reivindicatória leia o jornal 'Ocupe-se', editado pelos alunos após igualmente ocuparem a ASCOM. O resultado da campanha #ChegaDeMigalhas pode ser lidos na  ata da reunião no Ministério Público Federal de Sergipe, onde estiveram presentes o vice-reitor da UFS, Ângelo Antonioli, alunos ocupados e uma comissão de professores do Departamento de Comunicação Social, sob a condução do procurador Pablo Coutinho Barreto. Ao invés do antagonismo aparente entre alunos e representantes da escola, as benesses conseguidas para os alunos sem dúvida refletirão positivamente para todos.

O que foi conseguido? Prioridade máxima na contratação de professores substitutos e efetivos, para suprir a nossa demanda de 16 professores; Prioridade máxima no processo licitatório do futuro Prédio do CESAD, com espaço garantido para o DCOS; O comprometimento da Reitoria para abertura imediata do processo licitatório do Complexo de Comunicação para entrega em Setembro de 2012; A transferência da administração dos espaços laboratoriais do CEAV para o DCOS; A estruturação das salas de projeção audiovisual já para 2011.2; Aquisição de equipamentos e materiais, priorizando os cursos de Audiovisual e Publicidade e disciplinas como Fotografia; Audiência Pública sobre a Rádio UFS, planejada para Outubro de 2011. 



Hall da reitoria durante Assembléia Geral dos Estudantes.

A reunião aconteceu no mesmo dia da Assembleia Geral Extraordinária dos estudantes, convocada pelo Diretório Acadêmico de Comunicação Social  e pela Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social, posto que há 4 anos não há assembleias gerais convocadas por quem de fato tinha, além do direito, o dever de convocar: o DCE.

Manifestações de apoio à ocupação durante a AGE, onde representantes de
sindicatos, professores foram dar aopio e alunos de diversos cursos foram ao microfone
para falar das dificuldades enfrentadas no dia à dia dos seus cursos.


Várias manifestações de professores, alunos de vários cursos, representantes de diversas entidades sindicais apoiando o movimento, além de informes e de atividades lúdicas, como a apresentação da peça 'Alice no país da REItoria', de autoria dos alunos ocupados. Ao final da peça, a atriz que interpretou Alice, a estudante de biologia Jaciara perguntou aos mais de duzentos presentes "É pra ocupar?" Senti o chão da reitoria tremer com um sonoro e uníssono grito coletivo: "OCUPA!"

'Alice no pais da REItoria'
Na lista de presença da AGE foram contados até às 20h30 duzentos e trinta e oito nomes. Esse número expressa, ao meu ver e na minha sincera opinião, que a ocupação, vitoriosa no seu objetivo principal, teve uma enorme derrota ao não conseguir a adesão da grande maioria de alunos do seu curso. Vê-se com isso na prática que ocupar uma reitoria ainda é muito mais fácil do que convencer as centenas de alunos do curso de comunicação social a participar de uma luta legítima para a melhoria da qualidade e das condições de ensino.

Teixeira Coelho, resume a fala do sociólogo francês Michel Maffesoli em seu livro 'A república dos bons sentimentos' sobre a contemporânea apatia: O momento atual é um desses em que jornalistas, universitários e políticos, em suma a intelligentsia, mostra-se em total falta de sintonia com a vitalidade popular. Para entender melhor em que isso consiste, é preciso por em evidência a lógica do conformismo intelectual reinante. Diante todos esses agravantes ainda divulgaram um texto apócrifo tentando difamar os organizadores da ocupação que só vale à pena ser citado pelo direito de resposta que suscitou.

Essa massiva e ensurdecedora apatia remete aos povos das cavernas de Platão; às pílulas vermelha e azul do filme Matrix; ao poema 'O analfabeto político', de Bertold Brecht; mas principalmente à música Wish you were here, gravada pelo grupo inglês de rock progressivo Pink Floyd em homenagem ao seu ex-vocalista Syd Barret, sequelado pelo uso de drogas alucinógenas e preso em seu mundo particular até 2006, quando faleceu. Essa música, que dá nome ao disco, diz o que gostaria de dizer a todos os estudantes ausentes na ocupação: como eu gostaria de ter você aqui!

Os estudantes ocupados da UFS exigiram demandas específicas do seu curso e conseguiram uma promessa acordada no MPF-SE. Mas sua realidade é um microcosmo que reflete o problemas semelhantes de todos os outros cursos. O buraco é muito mais embaixo e as deficiências são similares, posto que a política educacional, mesmo propagandeando o contrário, parece instaurar um processo de sucateamento, há muito evidente no ensino público fundamental e médio, em toda malha educacional superior. O que esses alunos ocupados fizeram foi o mesmo que alunos de outras épocas quando dificuldades nas políticas educacionais surgiram: não deixaram a escola atrapalhar seu estudo.

Texto e fotos André Teixeira