segunda-feira, 11 de julho de 2011

O projeto caju na rua e as efemeridades da arte


A necessidade de o homem se expressar artisticamente nasceu antes mesmo do mais arcaico conceito de 'Arte'. Provavelmente os utensílios manuais e as pinturas rupestres, como as do complexo de cavernas Lascaux, na França, datadas de mais de 15.000 anos de idade, significavam algo para quem as fez. O quê, não podemos saber, apenas supor que sua feitura, espalhada por milhares de sítios arqueológicos por diferentes povos, incomunicáveis por qualquer via, era de tal forma impossível de se deixar exprimir.

Detalhe da obra de João Valdênio, no Centro Cultural J. Inácio, na Atalaia.

Fábio Sampaio e seu caju,
na Alameda das Árvores
no bairro Grageru.
Os fazeres manuais do pleistoceno superior se transformaram no que pode ser considerado 'fazer artístico' dos nossos dias. Mas, qual o sentido da arte? Nietzsche diz que a arte deve, "antes de tudo, em primeiro lugar, embelezar a vida". Nesse sentido o artista plástico Fábio Sampaio, santista radicado em Aracaju, apresenta-nos o projeto Caju na Rua, embelezando a cidade com esculturas de cajus customizados por artistas plásticos residentes em Sergipe. Pela repercussão positiva encontrada tanto na mídia impressa e digital, pode-se dizer que os executores do projeto conseguiram seu intento: embelezar um pouco mais algumas ruas e locais de Aracaju. 

Os cajus foram idealizados para a primeira Virada Cultural de Aracaju, depois para junho de 2010, mas sua exposição se deu apenas em fevereiro de 2011. Aliados a Fábio, a Agência de Comunicação Voz e Gafaio Soluções Artísticas contaram com o apoio da Construtora Celi e da Prefeitura de Aracaju.

Caju (parte superior esquerda) visto do Mirante da 13 de Julho, por Hortência Barreto.

O motivo 'caju' foi escolhido por ser um dos símbolos da capital sergipana. A princípio haveria um estudo sobre a duração da exposição. Pensou-se em deixar os caju por mais tempo do que os cinco meses previstos, mas seguindo o princípio da intervenção urbana Cow Parade, que norteou Fábio Sampaio na conceituação desse projeto, os cajus serão retirados ainda no mês de julho de 2011.

Vista da colina do Santo Antônio, onde o maruinense Cruz afixou seu caju. 
Serão retirados, sim. Mas para quem os viu, sua forma ainda ocupará os espaços na cabeça dos passantes que, ao de novo passarem pelos locais, (provavelmente) se perguntarão "Cadê o caju que estava aqui?!". Essa mesma pergunta me faço quanto a uma anterior intervenção urbana do Fábio. Uma escultura apenas, na parede do Hotel Palace, cruzamento das ruas Geru com Itabaianinha, defronte ao Ed. Maria Feliciana. Um ciclista em sua bicicleta, feitos em fibra de vidro também, fora instalado na parede do hotel. Toda vez que passo por lá olho para o alto à procura do ciclista, e sempre vejo sua silhueta desenhada invisível no espaço.

O caju customizado por Alan Adi fica no Bairro Industrial.
Como diria Michel Maffesoli no livro 'Saturação', Não será isso a ambição de toda arte: tornar visível o invisível? Ou ainda, no sentido inverso do lamento da abordagem crítica que leva à inércia do espírito, retroceder do derivado ao essencial. Além da simples cronologia, perceber aquilo que, de modo oculto, destina-se a ser. O eixo teórico dessa sensibilidade: é na sombra que se oculta a verdade das coisas.

Fábio Sampaio com seu projeto pretende provocar, além da presença física dos cajus, com sua ausência! Instigar e forçar a lembrança das pessoas. Fazer com que os frutos símbolos da capital sergipana, mesmo que desdobrados de sua imagética original perverta-se na lembrança dos indivíduos que visitaram-nos e lembram mais ou menos, ou ainda dos que não viram de perto, possam apenas supor como seriam tais obras.


Artista: Madureira Localização: Parque da Sementeira


Fábio tem a intenção de retornar em 2012 com o Caju na Rua ampliado. Ocupando mais espaços. Seriam entre 20 a 30 cajus, consequentemente privilegiando outros bairros de Aracaju. "Todo ano esperamos Forró Caju, Pré-Caju, por que não esperarmos o Caju na Rua?


Detalhe da obra de Fabião, no aeroporto de Aracaju.
Trabalho de Edidelson Silva, na Passarela do Caranguejo, praia de Atalaia.
O inconfundível traço de Zé Fernandes adorna o caju localizado no Mercado do Centro Histórico .
Elias Santos pintou o caju situado nas proximidades do Parque dos Cajueiros.


Outras fotos desse projeto podem ser visualizadas no álbum Caju na Rua, disponível no site Picasa. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário