sábado, 19 de novembro de 2011

Vôlei sentado promove inclusão em Sergipe


1º Torneio de Vôlei Sentado abre espaço para a divulgação do paradesporto

Por Iargo Souza, Nayara Arêdes, Raimundo Morais
e Victor Daniel

Na manhã do sábado, 19, realizou-se no ginásio do Instituto Federal de Sergipe (IFS) o 1º Torneio de Vôlei Sentado do estado. Mais do que a competição, o evento visa promover a inclusão social e a cidadania, oferecendo aos para-atletas a oportunidade de entrar em contato com o esporte de modo a superar suas limitações físicas. Além dos paradesportistas, o torneio se voltou aos próprios estudantes do IFS. Os alunos do 1º ano do curso de informática não só participaram da organização como também competiram.
Paratletas treinam antes dos jogos
Equipes reunidas de confraternização
"Devemos adaptar as regras
para  que todos possam
jogar", diz Oswaldo
Para Oswaldo Mendonça, professor e organizador do evento, o momento é de conscientização. “Ninguém quer ser deficiente, mas um dia todo mundo pode se tornar um. A gente, no mínimo, para pra refletir e repensar nossas atitudes. Queremos formar cidadãos conscientes e críticos”, diz. A mudança de visão se dá também entre os próprios deficientes com relação a sua imagem. Ângela José, esposa do para-atleta Hélio José, diz que o esporte ajudou a melhorar a vida do marido. “O vínculo muda a maneira de pensar e conviver. Ele se sente bem por estar com pessoas com o mesmo problema que ele, deixa de ser o ‘especial’ do grupo e fica mais a vontade”, conta.

Mirela se emocionou com
a experiência
Participaram do evento cinco equipes formadas por atletas do Centro Integrado de Esportes Paratletas, cadeirantes do IFS e equipes de estudantes não deficientes. Para a estudante Mirela Farias, jogadora do time Winners, “o evento é uma forma de inclusão, pois mexe com a auto estima, é como se eles crescessem através do esporte”. Nos jogos os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar outra realidade, jogando sentados e reproduzindo os movimentos dos paradesportistas. “Treinamos durante um mês e meio e hoje eu estou emocionada. Eu percebi que a gente pode fazer coisas impossíveis, depende só do que acreditamos. Preconceito não leva a nada, todos somos pessoas e temos que confraternizar”, diz Mirela.

O Paradesporto e o vôlei sentado em Sergipe

Paratletas e alunos do IFS se cumprimentam após o jogo

"Tenho uma irmão paraplégico,
meu sonho é vê-lo aqui",
conta Ruth


O professor Oswaldo Mendonça explica que no estado, o paradesporto iniciou-se em 2003, com a prática do basquete em cadeira de rodas. Após cinco anos, alguns dos atletas que praticavam essa modalidade passaram a jogar o vôlei sentado dentro de uma sala de aula, sem a estrutura adequada. O IFS acolheu o esporte, disponibilizando seu espaço para treinos. Desde então, o IFS transformou a iniciativa em um projeto de extensão. Segundo a pró-reitora de pesquisa e extensão Ruth Andrade, “temos a pretensão de ampliar o projeto. Queremos acolher os paratletas em nosso quadro de alunos, criando cursos direcionados para que eles não venham aqui apenas jogar, mas também se para que se capacitem inclusive para o mercado de trabalho”.

Independente das medalhas, todos ganham
com a prática do esporte
Oswaldo destaca que existe a pretensão de se criar nos próximos anos um núcleo de formação de paratletas no estado, que deve incluir não só o vôlei sentado e o basquete de cadeira de rodas, mas modalidades como o golbol – uma espécie de handebol para deficientes visuais – e a capoeira adaptada para deficientes mentais. Enquanto o núcleo ainda não é uma realidade, competições são organizadas com o intuito de levar o esporte a público e agregar novos parceiros e atletas. No próximo sábado, 26, acontecerá no Ginásio Carlos Cruz, no bairro Dezoito do Forte, o Esporte e Cidadania. O evento envolverá diversas modalidades desse gênero esportivo, e promete reunir maior público que o torneio.

Atletas sofrem com falta de divulgação e incentivo ao esporte
Um dos entraves ainda enfrentados pelos paratletas é a falta de apoio e de divulgação. O estreante Jailson Costa fala de sua experiência: “Eu mesmo estou vindo pela primeira vez, e fui convidado pra jogar quando estava passando na rua. Oswaldo parou o carro e me chamou. Já tinha até ouvido falar antes, mas nunca no rádio ou na TV”. A este respeito, Oswaldo diz haver planos de criação de uma página sobre o paradesporto na internet em parceria com os alunos do curso de informática. “Temos dois jogadores que saíram daqui de Sergipe e foram jogar basquete na Europa, mas ninguém sabe. Nosso objetivo ao divulgar não é só preparar pra competição e olímpiada, é o social”, diz.

“Rompendo fronteiras”
Hélio José, 58 anos, sofreu aos 13 o acidente que o fez perder uma de suas pernas. A partir de então, teve que aprender a conviver com as limitações que sua condição física lhe impôs.

Ângela e Hélio: "me apaixonei por ele à primeira
vista. No começo minha família era contra, hoje
 ele é o mais querido"  
"Quando moleque eu sonhava em ser jogador de futebol. Cheguei até a ser convidado a jogar no Olaria, um time do Rio, de onde venho. Mas quando aconteceu meu acidente, o sonho foi pro espaço. Aí fui estudar, trabalhei desde cedo. Tive um problema de síndrome do pânico, e como sempre vinha aqui em Sergipe, vim pra cá de vez. Um dia fui levar meu sobrinho no futsal, e Oswaldo me falou do vôlei. Aí comecei a jogar, trouxe minha família e desde então estou aqui. Claro que já cheguei a sofrer preconceito na minha vida, mas a gente que é deficiente também tem preconceito com outras coisas. Tem até preconceito de deficiente pra deficiente. Só que a gente tem que aprender a absorver os tijolos que jogam em nossa cabeça e construir uma casa. O deficiente é olhado com medo pela sociedade, mas isso pra mim já é normal. E o esporte me ajudou muito, até com relação à síndrome mesmo... Fez com que eu olhasse a mim mesmo sem ter vergonha, de um jeito diferente. Ele faz com que você faça amizades e quebre barreiras. Hoje eu tenho minha família unida, dois filhos, e um casamento de 32 anos. Se um dia eu chegar a virar profissional é consequência, mas o que eu quero é continuar jogando”.



Entenda o vôlei sentado:

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