quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O que não pode faltar

Cesta básica em Aracaju é a mais barata do Brasil. Mas o que isso significa?



Por Iargo Souza, Nayara Arêdes e Victor Limeira

Presente no cotidiano do consumidor, a Cesta de Produtos Básicos ou Ração Essencial Mínima é a medida padrão para a alimentação do brasileiro. Definida pelo Decreto-Lei 399, de 30 de abril de 1938, a Cesta Básica é a quantidade mínima de produtos utilizados por uma família no período de um mês. No Brasil, as quantidades mudam segundo a tradição alimentar de cada grande área do país, e os preços variam de capital para capital.

De forma geral, a cesta básica é composta por 13 itens: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão francês, café, banana, açúcar, óleo e manteiga. As quantidades são pensadas de modo a garantir o sustento do indivíduo, contendo teores balanceados de nutrientes. Apesar disso, é consenso entre os nutricionistas que a cesta é fraca em vitaminas e minerais, encontrados em frutas, verduras e legumes.

Produtos básicos não suprem devidamente as necessidades nutricionais 
"Prefiro fazer compras aqui e levar pra meu filho em Salvador. Sai mais em
conta.", diz Eliane Leal

Outra discussão a respeito da cesta básica relaciona-se ao que deve ou não ser considerado básico para o sustento de uma família. “Arroz, feijão e macarrão não bastam. Material de limpeza é indispensável também”, diz Eliane Leal, professora e mãe de quatro filhos. Além disso, as quantidades previstas pela cesta não são consideradas suficientes pelo consumidor. “Não dá pra viver só com a cesta básica. Pra família pequena até dá, mas quem tem três, quatro filhos, como é que faz?”, indaga a funcionária de farmácia Helena da Silva. Na prática, portanto, a cesta básica é mais uma unidade de medida abstrata ligada ao poder de compra do salário mínimo que um padrão de consumo.

"Comprar em mercadinho às vezes é mais vantagem
 do que em supermercado", opina dona Helena
A quantidade de carne na cesta básica varia de acordo com
a região

A distribuição dos produtos nas grandes áreas segue a divisão Sudeste, Sul/Centro-Oeste e Norte/Nordeste. Os cardápios regionais variam de acordo com o costume de cada população. Enquanto no Centro-Oeste e no Sul a cesta básica contém 6,6kg de carne devido às tradições locais e à baixa temperatura da região, no Norte e Nordeste essa quantidade é de apenas 4,5kg. A farinha, por sua vez, tem maior importância nas regiões Norte e Nordeste: 3kg, contra 1,5kg no Sudeste.

Banana e tomate são as únicas frutas que compõem a cesta
Tradicional, o pão é item básico da cesta

A cesta básica em Aracaju

O feijão é um dos produtos da cesta básica
que mais sofreu variação de preço no último
semestre
Enfrentando oscilações ao longo do ano, a cesta básica em Aracaju fecha 2011 mantendo-se como uma das mais baratas do país. Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Aracaju tem o menor valor do conjunto de alimentos (R$ 183,61) dentre as 17 capitais brasileiras pesquisadas. Junto a João Pessoa, a capital sergipana foi a única a registrar preços inferiores a R$200 no mês de outubro. Em contrapartida, o aumento anual no valor da cesta básica em Aracaju foi de 4,4%, o terceiro maior do país – índice que se reflete na mesa do consumidor.
Entre os consumidores ainda não há consenso sobre o que é
realmente básico
Enquanto o valor da cesta básica sofre variações, o salário e o poder de compra não acompanham o ritmo. “Às vezes tem promoção, mas sempre os preços aumentam. E o salário aumenta só uma vez por ano, se é que aumenta”, diz Jefferson Barbosa, caldeireiro e pai de duas filhas.  No período de janeiro a agosto deste ano o gasto com carne sofreu elevação de 3,87%. Na mesma época o tomate variou de R$ 19,80 para R$ 21,72 chegando a R$ 26,64 no mês de março. Os aumentos de preço, no entanto, seguem uma tendência nacional, o que justifica a posição de destaque de Aracaju com relação ao baixo custo de vida.

Nas regiões Norte/Nordeste, a quantidade
de tomate é de 12kg; 3kg a mais que nas
outras regiões 
No mês de outubro, preço do arroz cai 2,14%
em Aracaju e registra alta em dez capitais




















Aracaju ainda apresenta vantagem em relação às outras capitais no que se refere à cesta básica. No entanto, o poder de compra do brasileiro – e, por conseguinte, do aracajuano – não condiz com o ideal. Segundo o DIEESE, levando em consideração a necessidade de suprir as despesas com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o salário mínimo no Brasil deveria ser de R$ 2.285,83 - o que equivale a quatro vezes o mínimo em vigor, de R$ 545,00.

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