Varrição, capinação, coleta domiciliar e outros serviços são as atividades exercidas por 1.080 garis para manter as ruas, avenidas e praças da capital limpas.
Por Osmar Rios, Joseilton Bispo, Wallison Oliveira, Helder Santos e Eudorica Luciana.
Entre as ruas e avenidas de Aracaju, os garis chegam a percorrer trinta quilômetros por dia, uma verdadeira maratona que resulta na coleta de cerca de 470 toneladas diárias de lixo. Essa é a pesada rotina dos garis que, mesmo tendo que encarar oito horas diárias de trabalho, entre chuva e sol, não perdem a alegria e irreverência. Para se ter uma idéia, só no Centro da cidade são necessários 181 garis, distribuídos em cinco equipes que se revezam, dia e noite – dentre elas as famosas “margaridas”, como são carinhosamente chamadas as varredeiras.
D. Nilva se preparando para mais um dia de trabalho |
A rotina destas “flores” começa bem cedo com os preparativos da marmita: arroz e feijão não podem faltar, acompanhados de salada, mas a carne nem sempre está presente. Para chegar no horário, acordam às quatro horas da manhã, é o que nos revela D. Maria Nilva Santos Oliveira, 55 anos: “Acordo cedinho para não perder o ônibus e para adiantar minhas coisinhas em casa. Nem precisa chegar tão cedo, mas faço questão de chegar”. D. Nilva é a primeira a chegar, pois abre a sede, prepara o café e em seguida veste seu uniforme. Depois, a “margarida” espera a hora de sair para mais um dia de trabalho ao lado de D. Maria Luzinete Vieira, 54 anos, uma varredeira que, embora tenha idade semelhante à da companheira, já sente na pele o reflexo do seu trabalho.
“Quando chego em casa a noite dói tudo, principalmente, a coluna e as pernas, apesar disso eu já estou acostumada com a minha rotina, até porque é meu ‘ganha pão’. Com o meu trabalho ajudo a cidade a ficar mais apresentável e mais bonita,”diz D. Luzinete.
D. Luzinete gosta do que faz, mas sente bastante os esforços físicos |
Já a sua companheira, Maria Nilva, gari há 20 anos, também tem consciência da importância do seu trabalho não só para a cidade, mas também para sua família. “Nosso trabalho é muito importante porque deixa a cidade mais limpa e mais bonita. Através dele, consegui comprar minha casa própria e criar os meus três filhos. Hoje, posso dizer que sou uma pessoa feliz, porque quando a gente faz as coisas bem feitas e com amor o resto é o de menos”, declarou, com o sorriso no rosto, D. Nilva.
Porém, a “margarida” Maria Nilva reclama apenas de uma coisa: a falta de apoio da população. “As pessoas não têm consciência de como é duro o nosso trabalho e, assim, passam por cima do lixo quando estamos varrendo, jogam lixo no chão ao invés de jogar na caixa coletora. Sem falar nos vendedores de frutas que jogam o resto da mercadoria no meio-fio e, quando a gente fala, eles dizem que se não fosse o lixo que eles jogam, nós não teríamos trabalho, e é para isso que o prefeito nos paga. Eu acho muito errado isso, mas fazer o quê, né?” desabafou D. Nilva.
Lixo produzido pelos vendedores de frutas a todo momento. Assim que as margaridas limpam, eles jogam mais. |
No Mercado Municipal não é diferente, muitos comerciantes também não colaboram. |
Para os novatos, como Adriano dos Santos, 24 anos, que já passou pela capinação e está há três meses como gari, já sabe bem a importância do seu trabalho. E, diferente das varredeiras, Adriano está no trabalho por necessidade. “Sei que sou útil de alguma forma para cidade, mas estou aqui porque preciso. Tenho minha mulher e três filhos para criar e, no momento, não tenho nenhum serviço melhor para fazer. Aqui o trabalho é duro, esse sol quente ‘mata’ a gente”, disse Adriano.
Segundo o supervisor da Casa do Gari, Marcos Oliveira, os pontos mais críticos de acumulação de lixo no Centro da cidade são as ruas Sta. Rosa, Apulcro Mota, José do Prado Franco, Itabaianinha e os calçadões. Ele explica que nessas regiões o trabalho dos garis é constante, não têm moleza: “As equipes saem às sete da manhã para fazer a limpeza, e duas horas depois saem as caçambas e caminhonetes para fazerem a remoção do lixo”.
Marcos, explica tudo com muita alegria e demonstra o quanto é bom estar ali |
A Casa do Gari é mantida pela Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsrub) e está localizada na avenida Airton Teles, no bairro Santo Antônio. O espaço serve como ponto de apoio às “margaridas”, em especial, e também a alguns garis. A Casa possui cozinha, banheiros, refeitório e armários pessoais. Mais de cem profissionais são atendidos pelo estabelecimento, sendo que a maioria são as varredeiras, que realizam trabalhos de limpeza das vias centrais e praças.
De acordo com a assessoria de comunicação da Emsurb, existe um batalhão de 1.080 agentes de limpeza que executam os serviços de varrição, capinação, coleta domiciliar, pintura de meio-fio e manutenção de praças e canteiros. Dados da gerência revelam que, de 2007 a 2010, o serviço de varrição manual percorreu um total de 177.092 quilômetros, que segundo eles é pouco mais de quatro vezes a circunferência do planeta Terra, e possuem 28 caminhões coletores que realizam a coleta de lixo domiciliar pelos bairros de Aracaju.
Luciano dos Santos, 43 anos, trabalha há 12 anos pendurado ao caminhão coletor de lixo e enfrenta várias situações de risco. Segundo ele, agilidade e atenção são fundamentais para evitar acidentes e cumprir a rota de coleta no menor tempo possível. Junto aos seus companheiros, Erivaldo Santos Souza e Adriano Santos da Conceição, saem cedinho e percorrem ruas que vão desde o Centro da cidade até a Zona Norte de Aracaju. “O caminho é o mesmo todos os dias, as pessoas nas ruas até já nos reconhecem pela a nossa alegria e disposição”, disse Luciano. Mas, a rotina dos garis não é só felicidade e reconhecimento, é preciso preparo físico para desempenhar este papel. E, entre risadas, completa Adriano: “A gente faz muita palhaçada e rimos muito, até o motorista do ‘King Kong’, como chamamos o caminhão coletor, entra na brincadeira, mas a correria é grande”.
Dioclides Santana fazendo a limpeza na "José do Prado Franco", travessa Hélio Ribeiro. |
Luciano dos Santos, 43 anos, trabalha há 12 anos pendurado ao caminhão coletor de lixo e enfrenta várias situações de risco. Segundo ele, agilidade e atenção são fundamentais para evitar acidentes e cumprir a rota de coleta no menor tempo possível. Junto aos seus companheiros, Erivaldo Santos Souza e Adriano Santos da Conceição, saem cedinho e percorrem ruas que vão desde o Centro da cidade até a Zona Norte de Aracaju. “O caminho é o mesmo todos os dias, as pessoas nas ruas até já nos reconhecem pela a nossa alegria e disposição”, disse Luciano. Mas, a rotina dos garis não é só felicidade e reconhecimento, é preciso preparo físico para desempenhar este papel. E, entre risadas, completa Adriano: “A gente faz muita palhaçada e rimos muito, até o motorista do ‘King Kong’, como chamamos o caminhão coletor, entra na brincadeira, mas a correria é grande”.
Da esquerda p/ a direita: Erivaldo Souza, Adriano da Conceição e Luciano dos Santos |
O trabalho desses profissionais é cercado de perigos e, por isso, precisam de bastantes cuidados, principalmente em meio ao trânsito, descendo e subindo do caminhão em movimento a todo instante. “Eu já perdi um dedo e machuquei a perna por conta do serviço, mas me sinto feliz com o que eu faço, pois sei que o meu trabalho é peça fundamental para o bem-estar da cidade. Além disso, é dele que vem o alimento para meus filhos”, disse Luciano. Ele também revelou que o inimigo número um dos garis que utilizam o caminhão coletor são os taxistas, que não os respeitam na maioria das vezes.
O "King Kong" faz uma parada no Bugio para mais uma coleta |
Neide Santos, 35 anos, moradora do bairro Cidade Nova – Zona Norte da cidade – ressalta a importância dos garis para a população e para cidade: “Quero agradecer não só em meu nome, mas em nome da comunidade pelo serviço prestado pelos garis. É preciso força de vontade e coragem pra ser um”, declarou Neide. Ela lamenta o fato de muitas pessoas não respeitarem o horário estabelecido para a colocação do lixo na rua. “Às vezes, o caminhão de coleta acabou de passar por determinada rua e só depois que ele passa é que os moradores daquela região colocam o lixo na porta de casa. Precisamos manter nossa cidade limpa, pois sabemos que o lixo traz doenças, e uma cidade sem lixo é uma cidade limpa, organizada”, enfatizou.
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Lindo trabalho que retrata o olhar de pessoas sensíveis que percebem com sensibilidade e maestria a labuta dos que estão em situações mais difíceis. A equipe está de parabéns! A história de vida dos garis é um retrato do cotidiano que nem sempre percebemos. É preciso que pessoas com um olhar comprometido com o social coloquem em foco a realidade que nos circunda e que nem sempre enxergamos. ótimo post!
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