terça-feira, 5 de outubro de 2010

Aracaju, museu a céu aberto

por  Adriana Simões, André Teixeira, Camila Almeida e Lorena Ferro 


Desde a antiga capital de Sergipe os objetos de arte em espaço público permeiam os diversos períodos históricos. Quer seja para impor sua visão cultural e ideológica , através das missões da contra-reforma, quer seja para situar novos rumos políticos e sociais, como a independência sergipana e do Brasil, abolindo símbolos e signos referentes ao modelo vigente.

Cruzeiro da Praça São Francisco, construído em 1658.

Acima o Cruzeiro da Praça São Francisco, recém intitulada Patrimônio Cultural da Humanidade, foi construído em 1658, igual a muitas espalhadas pelos mais recônditos lugares do mundo.

Abaixo, minúsculo no centro da foto, o Cristo Redentor, primeiro do tipo no Brasil, lá longe, na Colina de São Gonçalo, depois das torres de telefonia celular, desde 1926 abençoa São Cristóvão. Essa é uma vista da rodovia João Bebe Água, tirada de dentro do ônibus em movimento.

Ao longe o Cristo Redentor de São Cristóvão, o 1º do tipo no Brasil.

Abaixo, a herma de Getúlio Vargas, inaugurada em agosto de 1958, descasca camadas de tintas de "restaurações" anteriores. A mais recente recobre a placa  da inauguração de branco. 

Herma de Getúlio Vargas.

Essa tradição é uma forma que toda cidade tem de preservar sua identidade, história e cultura. Através de seus monumentos situados em espaço público, nominados ou anônimos, oficiais ou não, eles são o registro histórico de um povo e compõem juntos um acervo aberto a visitação 24 horas. 

Em Aracaju assim como em outras cidades, os diversos afazeres do dia-a-dia impedem que seus moradores façam uma apreciação mais demorada de tais obras, e algumas até passam desapercebidas. Mas elas estão lá presentes, algumas invisíveis e abandonadas, outros em instituições e com certo zelo.

O Peregrino - grafitti anônimo em terreno baldio do bairro Capucho.

'O Peregrino', grafite anônimo (foto acima) localizado nas imediações do bairro Capucho, próximo à rodoviária nova, se mantém em uma construção abandonada misturado a anúncios de publicidade em meio a entulhos de construção. Marca de um peregrino, marca de um solitário? Anônimo e sem assinaturas, sujeito às intempéries do tempo e ação humana.

Fotografitti de Chagas no antigo Atheneuzinho,
futuro prédio da Fundação BAnese.

O grafiti, expressão artísca urbana e muito difundida nos grandes centros, conquistou galerias de arte pelo Brasil e pelo Mundo e ocupa privilegiados espaços nas grandes metrópoles. Mas sua predominância ainda são os 'espaços ociosos' de muros autorizados ou simplesmente 'tomados emprestados'. Em Aracaju André Chagas e no Brasil, destacando-se internacionalmente, Os Gêmeos, cujas obras ilustram paredes e muros em cidades de diversos países. 

Na antiga Secretaria de Estado da Educação e Cultura, alguns fotografittis seus (nova técnica de grafitagem usando fotografias) dão adeus à vida na reforma promovida pelo Instituto Banese de Cultura, atestando a efemeridade do gênero, sujeito a intempéries e agentes externos de todos os tipos.

No amplo e arborizado pátio do Conservatório de Música de Sergipe de Sergipe, na esquina da rua Sta Luzia e Boquim, há um monumento em homenagem ao professor e maestro Genaro Plech, importante ícone do ensino musical em Sergipe, que leva a assinatura de Cláudio Vieira e Benet Santana. 


Esculturas no pátio do Conservatório de Música de Sergipe.


Ali pertinho há a estátua de Sílvio Romero, na Praça Camerino, Centro de Aracaju. Imponente e ao léu. O grande pensador e folclorista certamente não transmite a sua contribuição para



a intelectualidade brasileira aos transeuntes diários. A falta de conservação da estátua é a mesma para com a memória do homenageado, ao que parece.

Tanto a pç Camerino como a estátua de Sílvio Romero carecem urgente de reforma.

Além da estátua, a própria praça Camerino merece ampla reforma, tal qual a Praça Fausto Cardoso teve, revivendo suas estátuas nos dois coretos em estilo art noveau além das outras obras de artistas e épocas distintas, e no prédio do Banese, na esquina da Rua João Pessoa, d'onde vê-se um painel em azulejo de um dos mais renomados artistas plásticos sergipanos, Jenner Augusto, que também pintou os afrescos do em estado de calamidade Cacique Chá, que espera a lerda burocracia dos trâmites jurídicos, e a ponte do Imperador com o casal de índios.

Novo paradigma


A praça do mini golf, mantida pela Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe, tem um dos mais novos e bem conservados monumentos: 'Viver Aracaju' (2009), da artista plástica Lau.

Além da autoria registrada em placa e do ótimo estado de conservação, servindo de paradigma à maioria das outras obras em espaço público de Aracaju, seu cenário ainda conta com o belo ‘Solar dos Rolemberg’, atual sede da OAB-SE, um dos prédios mais antigos da avenida Ivo do Prado. A oposição dos estilos faz uma boa tradução da nossa cidade que conserva o novo e o antigo em harmonia. Ótimo modelo a ser seguido ou melhorado pelos gestores de tais patrimônios.


Exemplo de conservação de obra de arte em espaço público.


No chão da praça do Iate Clube, no início da rua da frente, uma das diversas obras do araçatubense radicado há 26 anos em Aracaju Eurico Luiz: um Mapa Turístico de Aracaju feito em mosaico de azulejos, muitas vezes coberto por folhas secas das amendoeiras, às vistas apenas dos que lá vão. 


Detalhe do Mapa Turístico: festejos juninos no Bairro Santo Antonio.
Abaixo: 'você está aqui', detalhe representando a pç do Iate, onde esta o mapa,
feito em  mosaico pelo artista Eurico Luiz.

É, de certa forma, uma obra metalingüística, pois além de apresentar alguns pontos turísticos da cidade, pontua algumas das obras do  próprio  Eurico. Esses monumentos foram fotografados em um rápido trajeto pela cidade, mas é um recorte privilegiado do nosso ‘museu a céu aberto’. Qual é o seu roteiro? Quem mais falta aparecer nesse álbum?

O equipe do Projeto Sergipanidade registra o álbum Museu a céu aberto de Sergipe, no Picasa várias fotos de arte em espaço público. 

Uma das características desse passeio foi a às vezes completa e muitas das vezes parciais informações acerca das obras - como dados técnicos utilizadas, quase nunca encontramos a autoria das peças. A reforma do Palácio Museu Olímpio Campos, bem como a da praça que o acolhe, apontam um novo rumo para a conservação de tais obras. 


Luzes

Para sanar parte desse problema sobre a autoria das obras, bem como apresentar um estudo mais amplo dos aspectos sócio-culturais dos períodos históricos que pariram tais obras de arte em espaço público aracajuano, Ivan Masafret (organizador do livro), Léo Mittaraquis e Antônio da Cruz apresentam artigos importantes onde analisam sob a ótica da sociologia, da filosofia e das artes os monumentos públicos do estado, no recém lançado livro 'Artes Visuais Sergipe - Conexões 2010', que além desses três conta ainda com os artigos de Cauê Alves, Clarissa Diniz, Janaina Melo e César Romero. Segundo a profª Lilian França, discutem as relações pessoais, o capital social, o sistema de arte, o mercado, a profissionalização do artista, a linguagem e publicização da arte. Trazem uma base teórica que fundamenta as discussões e lança luzes sobre os principais temas, problemas e perspectivas do intrincado universo da arte contemporânea. O livro é oriundo do projeto de mesmo nome, Conexões Visuais 2010, promovido pela Sociedade Semear, Funarte, MinC e Petrobras. Um alento para quem queira saber mais sobre o assunto.


Finalmente?

Não lançamos aqui respostas. Mas sim muitas dúvidas. Quem são as pessoas por detrás das obras? De aço, concreto, vidro, tinta (e muitas das vezes sangue!), borracha, metal, ou o que seja, as obras de arte tem uma função maior do que puramente embelezar seu entorno. Qual seja, a de emprenhar de beleza o pensamento do passante, do transeunte que abruptamente é arrebatado pelo anônimo ou renomado artista que emprestou sua alma à matéria que ora lhe parla!

4 comentários:

  1. Os alunos que participaram dessa postagem foram:

    ADRIANA SIMOES CORTES
    ANTONIO ANDRE TEIXEIRA NETO
    CAMILA MODA DE ALMEIDA
    LORENA FERRO RAMOS

    A especificação técnica das fotos é:

    1ª Foto - Cruzeiro
    NIKON D3000 f/ 5.6 | 1/640s | ISO 100 | 55mm

    2ª Foto - Cristo Redentor
    NIKON D3000 | f/ 5.6 | 1/500s | ISO 100 | 55mm

    3ª Foto - Getúlio Vargas
    NIKON D3000 | f/ 11 | 1/200s | ISO 100 | 26mm

    4ª Foto - O Peregrino
    SONY DSC-S750 | f/ 5.6 | 1/800s | ISO 100 | 6mm

    5ª Foto - Fotografitti
    SONY DSC-S750 | f/ 5.6 | 1/500s | ISO 100 | 6mm

    6ª Foto - Genaro Plech
    SONY DSC-S750 | f/ 5.6 | 1/1000s | ISO 100 | 6mm

    7ª Foto - Silvio Romero
    SONY DSC-S750 | f/ 5.6 | 1/640s | ISO 100 | 6mm

    8ª Foto - Viver Aracaju (Lau, 2009)
    SONY DSC-S750 | f/ 5.6 | 1/640s | ISO 100 | 6mm

    9ª Foto - Mapa Turístico de Aracaju (Ser Feliz)
    SONY DSC-S750 | f/ 5.6 | 1/640s | ISO 100 | 6mm

    10ª Foto - Mapa Turístico de Aracaju (Santo Antonio)
    SONY DSC-S750 | f/ 4.2 | 1/500s | ISO 125 | 6mm

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  2. Ótima contribuição para o trabalho da NOSSA ESCOLA (Coroa do Meio - Aracaju - Sergipe). Como dissera André Teixeira, um dos responsáveis por essa postagem, isso é "dever de casa pra escola".

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  3. Jô Oliveira
    Verdadeiramente uma aula de sergipanidade

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  4. se me permitem uma correção, ali no O Peregrino, não é bairro 18 do Forte e sim Capucho, eu sei por que moro no condominio em frente, valeu?? parabéns pelo material!!!!!

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