quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Terminal do Centro: integração entre espera, insatisfação e trabalho

Por   
Andréa Cerqueira, Igor Bacelar, Julie Melo Braga, Nara Barreto, Tatiane Melo, Verlane Estácio


Inaugurado em novembro de 1989, o Terminal de Integração Jornalista Fernando Sávio, conhecido como Terminal do Centro é cenário de espera, insatisfação e trabalho para crianças, jovens, adultos e idosos que tem o local como ponto de espera para ônibus coletivo e local de trabalho. Com localização privilegiada, o terminal possui grande fluxo diário, composto principalmente por pessoas que trabalham no comércio do centro e por passageiros vindos do interior de Sergipe que desembarcam no Terminal Rodoviário Luiz Garcia, atraídos pelas linhas de ônibus que interligam os municípios de Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros.          
Fila dos ônibus na saída do terminal do Centro
Dona Josefa: vida dedicada ao terminal
Desde sua inauguração, comerciantes ganham a vida vendendo balas, sorvetes e lanches para motoristas e cobradores de ônibus, trabalhadores do local e pessoas que passam minutos à espera de um ônibus. “Comecei vendendo frutas, depois lanches. Fui ficando sozinha e agora vendo somente balas. Chego 5h da manhã, saio 9h da noite. Não sou aposentada, até o dia que Deus quiser permaneço aqui.”,disse Josefa do Nascimento, comerciante do terminal.
Dona Mercília, outra vendedora do local, trabalha há  dois anos com o seu marido numa barraca de doces, de onde vem o sustento do casal. A comerciante afirma que o convívio diário com o terminal já a faz reconhecer as pessoas que, frequentemente, passam por lá. Entre uma venda e outra, ela conta que, no terminal, o que mais lhe chama a atenção é a irresponsabilidade dos motoristas de ônibus. Segundo a vendedora, é comum presenciar a pressa dos motoristas, em geral, ao fecharem as portas sem que os passageiros tenham subido ou descido completamente. “Eles deveriam ter mais atenção”, recomenda.
Ambulante se arrisca no espaço dos ônibus 
 Já os cambistas, que preferem não se identificar, fazem do terminal do Centro seu único ponto de vendas. É da comercialização do Cartão Mais Aracaju- Vale Transporte que estes homens e mulheres vivem. “É difícil, pois muitas pessoas viram a cara, quando oferecemos. Mas dá para sobreviver só com a venda dos cartões”, conta um deles. Eles conseguem os cartões a partir de clientes antigos, que já lhes vendiam os vales-transporte, antes de haver cartão. Ganharam sua confiança e, hoje, eles mesmos procuram os cambistas, não mais para vender, mas para alugar seus cartões.
Embora seu trabalho seja no terminal do Centro, a venda acontece do lado de fora do local e nada tem a ver com o mesmo ou com alguma empresa de ônibus. Trata-se de um trabalho independente e informal. E justamente por isso, muitas vezes ocasiona a intervenção da polícia. Os cambistas contam que a abordagem é feita de maneira agressiva. Além de já terem sido levados à delegacia, a apreensão é feita de modo que as pessoas pensem que o que está sendo apreendido é droga. “Na verdade, os policiais sabem que não temos droga nenhuma, que vendemos é cartão”, afirma outro cambista. Não é nada fácil se manter nesse mercado. Mesmo assim, os cambistas continuam, afinal é sua única fonte de renda.
 Robson Ribeiro: deficiente visual
Administrado pela Viação Progresso, o terminal passou por uma reforma realizada pela Prefeitura de Aracaju, em setembro de 2009, onde foi implantada sinalização específica para portadores de necessidades especiais, rampas para cadeirantes e piso tátil para deficientes visuais, além da instalação de luminárias e recuperação da rede elétrica e hidráulica. Entretanto, para Robson Ribeiro, deficiente visual e usuário do transporte público, os terminais ainda têm de passar por melhoras estruturais, e as empresas de ônibus devem capacitar melhor seus funcionários. “Os terminais têm muito a melhorar. Muitos motoristas de ônibus não têm paciência com os deficientes, poucos são gentis”, reivindica.
Cadeirante sofre com deficiências no terminal
Insatisfação aparente na afeição do motorista
 
Falta de estrututa e manutenção
As vésperas de completar 21 anos, o terminal do Centro possui problemas que vão além da constante demora e lotação de passageiros nas conduções. Falta segurança, placas informativas e bancos para as pessoas que esperam pelo transporte coletivo. Segundo Paulo Henrique, que trabalha como segurança no terminal há cinco meses, acredita que as únicas problemáticas do terminal sejam furtos a bolsas de mulheres e desrespeito aos idosos de forma cotidiana.“Os furtos ocorrem mais em horário de pico, mas não são freqüentes. Baderna de trombadinhas, que entram no terminal para bagunçar, e desrespeito ao idoso são cenas que mais presencio”, afirma Paulo, funcionário de uma empresa privada.
Contraposição de idade
Mulheres de diferentes classes etária     
Apesar da pluralidade de pessoas, que estão ali com destinos diferentes dividindo o mesmo espaço, todos se integram na espera de melhorias não apenas físicas, como também comportamentais, no que se refere ao respeito e à tolerância.

Um comentário:

  1. Gostei bastante das fotos, reflete bastante uma parte de Aracaju que é, muitas vezes, esquecida de todos. Parabéns!

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