quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Por trás das cortinas

No Tobias Barreto, as histórias dos bastidores contadas por quem faz o teatro acontecer aos olhos do público

Por Iargo Souza, Nayara Arêdes, Victor Limeira 
e Raimundo Morais



Fundado há cerca de dez anos, o Teatro Tobias Barreto é o grande espaço público das manifestações culturais e artísticas em Sergipe. Durante sua história, o TTB já recebeu grandes espetáculos, de projeção internacional, nacional e local. Entre cores, sons, textos e movimentos, o mistério do teatro se faz realidade para o público. Quem assiste a apresentação, no entanto, muitas vezes ignora a complexa dinâmica de trabalho que acontece nos bastidores.

As palavras de Tobias Barreto no hall 
de entrada do teatro 
Por trás das cortinas há um engenhoso trabalho de cenografia, iluminação, sonoplastia, ensaios e tudo o que envolve o processo de concepção da cênica.  O TTB funciona de forma a receber e tornar concretas as idéias dos produtores e artistas. Nas palavras da diretora administrativa do teatro, Salete Martins, “Isso aqui é um hotel. É gente entrando e saindo o tempo todo. A gente está sempre trabalhando, quando não há espetáculo tem montagem”.  Para que o show aconteça, portanto, toda a equipe tem que estar em sintonia.
Além do palco com área de atuação de 16m e dos 1328 lugares divididos entre mesanino e plateia, o Tobias Barreto conta ainda com sala de dança, 11 camarins, seis camarotes, sala da técnica, salas administrativas e a sede da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) – onde acontecem ensaios diários com mais de 70 músicos. Quando os holofotes se apagam, toda esta estrutura pulsa para criar a atmosfera de um novo espetáculo.


O teatro e o público

Salete Martins,
 diretora
administrativa do TTB  
A produção de espetáculos no TTB é realizada por conta de produtores locais, com o apoio estrutural da diretoria do teatro. Há quatro anos o Tobias Barreto tem sido ainda mais requisitado devido às reformas no Teatro Atheneu, cuja conclusão está prevista para o próximo ano. “Estamos com uma grade fechada até 2013, já que o TTB está sozinho atendendo a demanda de todos os eventos do estado”, diz Salete Martins. Com o término da reforma do Atheneu, o Tobias Barreto passará por um período de recesso para manutenção – o que não acontece desde sua abertura.

A reforma do Atheneu colaborou para que o Tobias Barreto pudesse atrair um público mais popular, sobretudo com os preços acessíveis nas peças que contam com o apoio do governo federal. Soma-se a isso as políticas para atrair público ao teatro como a disponibilidade de acentos gratuitos para deficientes, meia entrada para estudantes,  idosos e professores. Essas ações têm contribuído para que as pessoas criem o hábito de ir ao teatro, um espaço que antes era tido como elitizado. “O teatro aqui abriu uma porteira. E isso fez com que Sergipe se transformasse numa potência dentro do cenário cultural brasileiro. Por aqui estão passando turnês de grandes espetáculos, com artistas consagrados”, diz a diretora administrativa. Os gêneros que trazem maior público ao teatro são os chamados stand up, as comédias e os shows de música. Além disso, o TTB tem aberto espaço para a produção de espetáculos infantis.

Há 10 anos em funcionamento, o TTB prepara-se para sua primeira
reforma.

A diretora chama a atenção para a falta de consciência na utilização do espaço do teatro. “Algumas pessoas querem levar comida, entrar depois do início da apresentação e até atender o celular.”, conta Salete. A funcionária da limpeza Vilma Matos confirma: “o público sergipano precisa se educar mais. Trabalho aqui há dez anos, e já cheguei até a ver briga por comida”. Por esse motivo, a coordenação do TTB tem a intenção de lançar no próximo ano uma campanha institucional para a educação dos espectadores.

A técnica

Técnico prepara os equipamentos pra o show da noite

Na composição de uma peça teatral, a técnica assume o papel de transformar a idéia do artista em algo concreto. A junção entre a interpretação, a iluminação, o som, o cenário e os efeitos de cena é o que dá a identidade do espetáculo aos olhos do espectador.

Segundo o técnico em iluminação Sérgio Robson, a cenografia cria o clima do espetáculo. “A concepção de iluminação é feita como uma pintura. O artista nos passa o plano do show, e nós fazemos uma interpretação para criar a atmosfera”. Para Sérgio, participar do planejamento faz com que o espetáculo perca a “mágica”. “Todos se tornam iguais nos bastidores, desde o artista até a técnica”.

"A iluminação é 30% do show, talvez até mais", diz Sérgio Robson.


O técnico em sonoplastia Tadeu Oliveira fala da dificuldade e do prazer de trabalhar no teatro: “A gente chegou hoje aqui 9h, e só vai sair lá pra meia noite. As pessoas ligam a televisão e pensam que já está tudo bonitinho, mas tem uma série de técnicos trabalhando pra que tudo dê certo. No teatro é a mesma coisa. A profissão é boa, dá até pra ganhar dinheiro na medida do possível. Mas a gente tem que amar o que faz”.


Na cabine de som, longe dos olhos do público, o espetáculo ganha vida.
A atriz

Com 15 anos de carreira, Rosana ainda sente aquele "friozinho
na barriga" ao entrar em cena.
Rosana Costa, diretora artística do Teatro Tobias Barreto e integrante do Grupo de teatro Oxente há mais de dez anos, fala do teatro com olhar de quem conhece. A atriz vê com bons olhos o atual momento em Sergipe, e lembra das dificuldades e prazeres ao longo de sua carreira. “Antigamente, quem fazia teatro não tinha o que fazer, o artista era mesmo marginalizado. Hoje a gente tem mais espaço”. Durante o percurso entre as dependências do TTB, Rosana conta: “Sempre tive o incentivo da minha família, mas já cheguei a ser discriminada pela minha escolha de ser atriz.”

Apaixonada pela profissão, Rosana se diverte ao contar as histórias por trás da coxia. Para a atriz, um dos grandes marcos de sua carreira aconteceu na Paraíba, em uma montagem de “O Santo e Porca”, de Ariano Suassuna. Ela conta do nervosismo ao representar o texto diante de seu autor, que estava sentado na primeira fila: “quando o texto é de humor, a gente sempre tem a possibilidade de brincar e colocar ‘cacos’. Mas o autor estava lá, aumenta a responsabilidade de não distorcer o texto. Acabou que saiu tudo bem, ele gostou, veio falar com a gente, autografou um cartaz da peça. Foi muito bom.”

"É no camarim, à medida em que a gente vai colocando o figurino, a maquiagem...
é aí que o personagem surge", conta Rosana.

A atriz, que já atuou em espetáculos como “O Casamento Suspeitoso” e “Os Saltimbancos”, nunca recusou um papel. Afirma ainda que não teria problemas em ficar nua no palco. “Já atuei como lésbica, prostituta, homem, e já cheguei a ficar só de calcinha em cena. Não escolho o papel, é ele quem me escolhe. Se fosse preciso ficar nua, não teria problemas, desde que o nu tivesse uma intenção artística. O corpo não pode ser banalizado”.

Para Rosana, atuar no palco do TTB ainda causa algum receio. “Ele é muito imponente. É difícil ocupar um palco tão grande. Para o artista, o palco mais aconchegante ainda é o do Atheneu. Como a gente costuma dizer, o Atheneu é o ‘primo pobre‘, e o Tobias é o ‘primo rico’.”, brinca. “Mas o importante mesmo é estar no palco. A força do espetáculo é tão forte que pra alguns artistas é difícil sair do personagem. Para mim, o teatro é um meio transformador, em que eu aprendi muito.”

O espetáculo
Audry da Pedra Azul e Ezequias Carvalho interpretam Pavão Misterioso
Depois de um longo tempo de planejamento e todo um dia de montagem, eis que os esforços de todos os profissionais dos bastidores são postos à prova. Chegada a grande hora, quando as cortinas se abrem, o artista deixa de ser uma pessoa comum para incorporar seu personagem. Neste momento, meses de ensaio e dedicação encontram seu ponto culminante, o que justifica o clima de tensão. “A concepção do show é uma gestação, e a estréia é o parto”, diz Pierre Feitosa, diretor do espetáculo Seu Tipo. Nesse show, o artista Audry da Pedra Azul personifica o cantor Ney Matogrosso, dublando de forma passional algumas das principais canções de seu repertório.

Coreografias bem elaboradas envolvem o público
Quarta-feira, noite chuvosa. No palco, um artista da terra. Esse poderia ser o cenário de um show sem público ou aplausos, mas não foi o que aconteceu na noite de ontem no Teatro Tobias Barreto. Pelo contrário: Audry e sua equipe trouxeram um grande público à casa, sendo ovacionado de pé.
"Não faço plágio, e sim homenagem.
Por isso, já fui reconhecido pelo próprio
Ney, meu ídolo", conta Audry.

Nascido em São Cristóvão,
Ezequias Carvalho já dançou
ao lado de Ana Botafogo.
No repertório, canções de Chico Buarque, Cazuza, Raul Seixas e outros,      imortalizadas na voz e na performance caricata de Ney Matogrosso e imitada com brilhantismo pelo artista sergipano. Além do talento de Audry, as coreografias elaboradas pelo bailarino Ezequias Carvalho exploraram o viés dramático da obra do artista, trazendo a força da poesia e prendendo a atenção do público do início ao fim. “Para criar as coreografias eu me inspiro na música, tento interpretá-la através dos movimentos”. E completa: “Trabalho com Audry há oito anos, e o show dele é sempre muito esperado por ser um celeiro da dança aqui no estado.”

Artista, bailarinos, música e luz compõem o espetáculo
Em um show denso, composto por momentos intimistas, Audry interagiu com o público, descendo à platéia e dançando. “É muito prazeroso quando as pessoas vem até mim no final do show e dizem que gostam do meu trabalho. A gente passa muito tempo concebendo o show, ensaiando, pensando em surpresas para agradar ao público... Por isso, a alma do espetáculo são os bastidores. O show só anda quando estamos ao lado de uma equipe competente, em que confiamos.”

  
Alfredo Martins e sua esposa,
Elizabeth Almeida, deixam o teatro
satisfeitos.
A opinião de Audry se confirma na voz do público. “Todos os que contribuíram para que o show fosse feito estão de parabéns. É uma pena que não tenha mais gente pra ver. A estrutura desse espetáculo não deixa nada a desejar, pode ser levado para qualquer lugar do mundo”, diz, empolgado, o espectador Alfredo Martins. E se há a aprovação do público, última instância do ciclo do fazer teatro, é sinal de que a dinâmica dos bastidores é bem sucedida. Para mais imagens clique aqui.

No fim do show, equipe agradece ao público.

Um comentário:

  1. O trabalho de vocês é muito bom... Parabéns por transmitir de forma clara e objetiva a importância de cada profissional que atua nesse maravilhoso mundo que é o Teatro. Parabéns também a todos que fizeram com que o espetáculo Seu Tipo, no qual o artista Audry da Pedra Azul cantou e encantou a todos, se tornasse esse grande sucesso. Eu sou super detalhista e perfeccionista com relação a detalhes e achei tudo perfeito do começo ao fim...Parabéns de verdade ...Ah... e manda pra mim, por favor, aquelas fotos q vcs tiraram no camarim! Bjo e sucesso pra vocês.
    Mara Angelo

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