Todo segundo domingo de outubro, a cidade de Laranjeiras, que fica a menos de 30 km da capital Aracaju, revive uma tradição folclórica: a festa do lambe-sujo. A manifestação folclórica conta a história dos escravos africanos, e como suas fugas e artifícios confundiam os capitães-do-mato. O próprio termo "lambe-sujo" vem da camuflagem que os escravos aplicavam sobre o corpo para facilitar sua fuga. No grupo dos personagens que compõe o lambe-sujo estão o rei, o primeiro e segundo feitor, mãe Suzana, a princesa e negros. Eles se pintam com uma mistura de tinta preta e melaço de cana, na cabeça usam uma espécie de capacete (ou gorita), pés descalços e uma foice de madeira como arma. Já no grupo dos caboclinhos estão o rei e a rainha, o cacique, o pajé e os próprios caboclinhos. Estes, em sua maioria, apenas vestem calções e tocas vermelhas. Alguns se pintam com uma tinta também vermelha em alusão à pele do índio.
Os caboclinhos
O feitor
As crianças incorporam a tradição mas ressignificam a festa
Com o surgir da aurora é que se dá início a um verdadeiro teatro ao ar livre. Homens, mulheres e garotos pintados de lambe-sujo surgem ao som de ganzás, pandeiros, cuícas, tambores e reco-recos, abordando e pedindo dinheiro, principalmente aos turistas que chegam a Laranjeiras. Caso as pessoas não tenham o que oferecer ao grupo folclórico, eles recepcionam as pessoas com a tinta preta utilizada para pintar a sua própria pele. E assim o festejo se desenrola durante todo o dia. Ao entardecer, a festa é encerrada com a batalha entre os negros e índios, e a vitória destes. O folguedo atrai turistas, cientistas, antropólogos, diretores de teatro e cinema do mundo todo.
O cortejo do lambe-sujo
Participação maciça de crianças
Momento final da festa que antecede a batalha dos Lambe-sujo e Caboclinhos
Mudanças
Entre as modificações ao longo dos anos na tradição folclórica do lambe-sujo estão as roupas. Boa parte das mulheres do município reforma a vestimenta tradicional para a comemoração desse folclore tipicamente sergipano. São dezenas que saem às ruas vestidas de vermelho sob a forma de saias, macacões, shorts, calças a gosto e estilo próprios.
Entre as modificações ao longo dos anos na tradição folclórica do lambe-sujo estão as roupas. Boa parte das mulheres do município reforma a vestimenta tradicional para a comemoração desse folclore tipicamente sergipano. São dezenas que saem às ruas vestidas de vermelho sob a forma de saias, macacões, shorts, calças a gosto e estilo próprios.
Além disso, a própria
forma de organização e participação da festa sofreu mudanças significativas.
“Antes só podia se
pintar quem era do grupo, somente os que iam dramatizar o duelo entre os
caboclinhos e lambe-sujos”, relata a estudante de teatro, Juliana de Jesus.
Muitos dos que
participam da festa, inclusive os turistas e os moradores da cidade, a encaram
como uma prévia carnavalesca, mostrando-se pouco conhecedores da origem e do
significado desse folguedo popular para a cultura local.
Juliana de Jesus, estudante de teatro em Laranjeiras
Comércio
A circulação de
turistas advindos de cidades vizinhas e de outros estados, durante o lambe-sujo
favorece os comerciantes da cidade de Laranjeiras. A movimentação no comércio
vai desde as costureiras, que são procuradas para confeccionar roupas, até os
vendedores ambulantes de cerveja, refrigerante, água mineral e comida. A
exemplo disso tem-se a comerciante Creusa Santos, que trabalha há mais de cinco
anos no evento e confirma ser lucrativo. “O lambe-sujo é uma festa tranqüila
que atrai muitos turistas e por isso a gente vende bem”.
Intervenção teatral
Durante o período da
manhã, a cidade foi surpreendida com uma intervenção teatral em praça pública formada
por alunos de Teatro da Universidade Federal de Sergipe (UFS), coordenados pela
professora Maicyra Leão. Pintados de barro branco e sem diálogos, o grupo
desenvolveu performances sutis que buscaram mostrar a origem comum entre o
negro e o índio: o barro. De acordo com Maicyra Leão, a idéia não foi romper
com a tradição do lambe-sujo, mas dialogar com ela. O propósito de intervir
durante a festa surgiu através de uma disciplina sobre performance e teatro
contemporâneo, o qual, de acordo com a coordenadora, tem muitos aspectos em
comum com a tradição popular dos lambe-sujos e caboclinhos. “A idéia foi trazer
uma estética contemporânea combinada com elementos que estão relacionados a uma
tradicionalidade com o barro”.
Como parte da
intervenção, foi distribuído um bilhetinho no qual trazia a seguinte mensagem:
ANTES DE NEGROS
ANTES DE VERMELHOS
O HOMEM NASCEU DO BARRO
ANTES...
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