Filas compõem a
paisagem no cotidiano urbano de Aracaju
Por Iargo Souza, Nayara Arêdes
Paulo Lopes, Raimundo Morais e Victor Limeira
No caminho do trabalho, no supermercado, no banco, no consultório
médico. Em pé, sentado ou ainda de outras formas. As filas são uma
constante na vida de todo cidadão, independente da função que ocupe, de onde
more, de como se locomova e de quais locais freqüenta. É difícil pensar em um
dia em que não pegamos fila: podemos perder apenas alguns minutos em uma
pequena fila do caixa eletrônico, ou horas na fila de uma repartição pública
para retirar um documento, por exemplo – como acontece diariamente no Centro de
Atendimento ao Cidadão (Ceac), uma das filas
mais famosas de Aracaju. Esta fotorreportagem ilustra algumas das muitas filas
que se podem encontrar em diferentes pontos da cidade, em apenas uma manhã.
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Às
6h da manhã a fila do Ceac, na Rodoviária José Rollemberg Leite, já concentra
muitas pessoas.
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Última da fila, dona Maria José sorri,
impressionada com a quantidade de
pessoas em sua frente. |
Às seis da manhã, no Terminal
Rodoviário José Rollemberg Leite, o número de pessoas à espera da senha já
chama a atenção. São duas filas: uma preferencial – para idosos acima de 60
anos, gestantes, portadores de deficiência e pessoas com crianças até 2 anos –
e uma comum. Um dos primeiros da fila, Aldo Santos, 43 anos, tenta pela segunda
vez recadastrar seu título de eleitor. “Da outra vez cheguei mais tarde, mas
hoje cheguei às 5 da manhã para tentar resolver”, diz. No outro extremo da fila,
dona Maria José, 58 anos, diz estar espantada pela quantidade de pessoas:
“Trabalho aqui perto, e passei para tentar marcar uma consulta médica. É sempre
cheio, mas hoje está demais. Vou ter que voltar outro dia”.
Quem trabalha no Terminal
Rodoviário já está acostumado com o tamanho da fila do Ceac. É o caso da atendente
de uma das lanchonetes, Mônica Azevedo, de 28 anos. “Hoje está até pequena. É
sempre assim, ou até pior. Já vi gente ficando nervosa e voltando pra casa sem
conseguir atendimento”, conta. Esperando pelo atendimento na fila preferencial,
Lealdo Almeida, 63 anos, diz já ter passado por preconceito pelo fato de
exercer seu direito ao atendimento prioritário: “Uma vez, quando estava no
mercadinho, passei na frente na fila do caixa. Uma moça ficou me olhando de
cara feia e soltando piadinhas. Mas esse é meu direito enquanto idoso”.
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O Sr. Lealdo Almeida, em destaque, e seus companheiros de fila. |
Compondo o cenário do terminal,
uma extensa fila de táxis espera logo ali em frente pela próxima corrida. Os
taxistas tem a fila como parte de seu trabalho, como é o caso do senhor Damião,
55 anos, que trabalha nesta profissão há 25. “Durante o dia, cada um aqui pega
quatro ou cinco corridas. A gente demora em média duas horas pra pegar uma
corrida, e depois volta ao final da fila.”
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Pegar fila é parte do trabalho dos taxistas. |
No centro da cidade, as filas são
uma realidade nas agências bancárias. Antes das 10 horas, horário em que os
bancos abrem, as pessoas se aglomeram na área dos caixas eletrônicos enquanto
esperam o horário de atendimento. Numa das agências, o escriturário Gilmário
Souza, 24 anos, fala a respeito do número de pessoas que por ali passam todos
os dias: “não tem como dizer o número exato, mas são sempre muitas pessoas”. E
a fila não termina mesmo depois que o banco entra em funcionamento. Depois de
entrar, as pessoas permanecem esperando até que suas senhas sejam chamadas nos
caixas. E é aí que entra em cena a Lei Municipal de número 2636/98, mais
conhecida como “Lei dos 15 Minutos”. A lei – que garante aos clientes o direito
de serem atendidos em no máximo 15 minutos em dias comuns, sendo prevista multa
à agência que descumprir a norma – está em vigor em Aracaju desde 2007. O
escriturário confirma que a agência em que trabalha tenta cumprir a regra, mas
que eventualmente podem acontecer atrasos.
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O desânimo da espera é a expressão mais frequente nos rostos da fila
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As filas não param por aí. Ainda
no centro de Aracaju, uma das filas mais populares é a do Restaurante Padre
Pedro, o famoso “bandejão”. Ao preço de 1 real, as refeições atraem uma
clientela fiel diária, sobretudo de idosos. A fila, que dá a volta no
restaurante, já é habitual aos que transitam e trabalham nos arredores. Durante
o horário de funcionamento, das 11h às 13h, o movimento no Padre Pedro
permanece intenso. E depois do almoço, na volta para casa ou para o trabalho, o
cidadão aracajuano enfrenta mais filas. Nos congestionamentos nas principais
avenidas da cidade ou nos terminais de ônibus, as pessoas ainda gastam alguns
minutos até chegar ao seu destino. Espalhados em diversos locais de Aracaju, os
pontos de recarga do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do
Município de Aracaju (Setransp) reúnem principalmente estudantes, especialmente
nos últimos meses, durante o período de recadastramento dos passes escolares.
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Fila
para entrada no restaurante popular Padre Pedro |
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Estudantes
esperam na fila do recadastramento de passe |
Filas
invisíveis
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A enfermeira Willyane Almeida afirma que desinformação é um entrave para doação de órgãos. |
Longe da cena urbana, uma fila passa
despercebida aos olhos da população. Apesar de não ser presencial, a fila de
quem espera para receber um órgão é de longe a mais árdua. A enfermeira
responsável pela Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos de
Sergipe (
CNCDO/SE) Willyane Almeida relata: “existem casos de pessoas que
esperam anos pela doação e acabam morrendo na fila”. A central funciona em
anexo ao Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), e realiza transplantes de
rim, coração (atualmente sem pacientes cadastrados na lista de espera), ossos e
córneas. Em 2011 já foram realizados 88 transplantes de córnea para atender a
uma fila de 108 pessoas. Já na fila para o transplante de rins, a situação é
grave: entre as 281 pessoas cadastradas, só 4 conseguiram transplante, mas
houve rejeição em um dos casos.
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Folhetos
publicitários da campanha nacional de doação de órgãos |
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Tabela
indica dados sobre transplantes de
órgãos no estado de Sergipe |
Apesar da atuação da Organização de
Procura de Órgãos e Tecidos (OPO/SE), o processo para a doação é complicado:
após a constatação da morte encefálica do doador, é aberto um protocolo e feita
uma triagem para constatar a compatibilidade entre doador e receptor. Ainda
assim, há a probabilidade de o transplante não ser bem sucedido, e o receptor em
potencial acaba voltando à fila. Este quadro está ligado ao pequeno número de
doadores declarados, o que se deve ao medo e ao preconceito ainda bastante
presentes entre a população. A enfermeira enfatiza: “existe uma grande
necessidade de conscientização entre as pessoas. Avisar à família e às pessoas
próximas é fundamental”.
Realmente, Aracaju tem muitas filas. Em todos os lugares que você for, tem uma. Iniciativas para diminuir o incômodo são sempre bem vindas (apesar de também formarem filas, como os caixas de auto atendimento).
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