quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Por trás das cortinas

No Tobias Barreto, as histórias dos bastidores contadas por quem faz o teatro acontecer aos olhos do público

Por Iargo Souza, Nayara Arêdes, Victor Limeira 
e Raimundo Morais



Fundado há cerca de dez anos, o Teatro Tobias Barreto é o grande espaço público das manifestações culturais e artísticas em Sergipe. Durante sua história, o TTB já recebeu grandes espetáculos, de projeção internacional, nacional e local. Entre cores, sons, textos e movimentos, o mistério do teatro se faz realidade para o público. Quem assiste a apresentação, no entanto, muitas vezes ignora a complexa dinâmica de trabalho que acontece nos bastidores.

As palavras de Tobias Barreto no hall 
de entrada do teatro 
Por trás das cortinas há um engenhoso trabalho de cenografia, iluminação, sonoplastia, ensaios e tudo o que envolve o processo de concepção da cênica.  O TTB funciona de forma a receber e tornar concretas as idéias dos produtores e artistas. Nas palavras da diretora administrativa do teatro, Salete Martins, “Isso aqui é um hotel. É gente entrando e saindo o tempo todo. A gente está sempre trabalhando, quando não há espetáculo tem montagem”.  Para que o show aconteça, portanto, toda a equipe tem que estar em sintonia.
Além do palco com área de atuação de 16m e dos 1328 lugares divididos entre mesanino e plateia, o Tobias Barreto conta ainda com sala de dança, 11 camarins, seis camarotes, sala da técnica, salas administrativas e a sede da Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE) – onde acontecem ensaios diários com mais de 70 músicos. Quando os holofotes se apagam, toda esta estrutura pulsa para criar a atmosfera de um novo espetáculo.


O teatro e o público

Salete Martins,
 diretora
administrativa do TTB  
A produção de espetáculos no TTB é realizada por conta de produtores locais, com o apoio estrutural da diretoria do teatro. Há quatro anos o Tobias Barreto tem sido ainda mais requisitado devido às reformas no Teatro Atheneu, cuja conclusão está prevista para o próximo ano. “Estamos com uma grade fechada até 2013, já que o TTB está sozinho atendendo a demanda de todos os eventos do estado”, diz Salete Martins. Com o término da reforma do Atheneu, o Tobias Barreto passará por um período de recesso para manutenção – o que não acontece desde sua abertura.

A reforma do Atheneu colaborou para que o Tobias Barreto pudesse atrair um público mais popular, sobretudo com os preços acessíveis nas peças que contam com o apoio do governo federal. Soma-se a isso as políticas para atrair público ao teatro como a disponibilidade de acentos gratuitos para deficientes, meia entrada para estudantes,  idosos e professores. Essas ações têm contribuído para que as pessoas criem o hábito de ir ao teatro, um espaço que antes era tido como elitizado. “O teatro aqui abriu uma porteira. E isso fez com que Sergipe se transformasse numa potência dentro do cenário cultural brasileiro. Por aqui estão passando turnês de grandes espetáculos, com artistas consagrados”, diz a diretora administrativa. Os gêneros que trazem maior público ao teatro são os chamados stand up, as comédias e os shows de música. Além disso, o TTB tem aberto espaço para a produção de espetáculos infantis.

Há 10 anos em funcionamento, o TTB prepara-se para sua primeira
reforma.

A diretora chama a atenção para a falta de consciência na utilização do espaço do teatro. “Algumas pessoas querem levar comida, entrar depois do início da apresentação e até atender o celular.”, conta Salete. A funcionária da limpeza Vilma Matos confirma: “o público sergipano precisa se educar mais. Trabalho aqui há dez anos, e já cheguei até a ver briga por comida”. Por esse motivo, a coordenação do TTB tem a intenção de lançar no próximo ano uma campanha institucional para a educação dos espectadores.

A técnica

Técnico prepara os equipamentos pra o show da noite

Na composição de uma peça teatral, a técnica assume o papel de transformar a idéia do artista em algo concreto. A junção entre a interpretação, a iluminação, o som, o cenário e os efeitos de cena é o que dá a identidade do espetáculo aos olhos do espectador.

Segundo o técnico em iluminação Sérgio Robson, a cenografia cria o clima do espetáculo. “A concepção de iluminação é feita como uma pintura. O artista nos passa o plano do show, e nós fazemos uma interpretação para criar a atmosfera”. Para Sérgio, participar do planejamento faz com que o espetáculo perca a “mágica”. “Todos se tornam iguais nos bastidores, desde o artista até a técnica”.

"A iluminação é 30% do show, talvez até mais", diz Sérgio Robson.


O técnico em sonoplastia Tadeu Oliveira fala da dificuldade e do prazer de trabalhar no teatro: “A gente chegou hoje aqui 9h, e só vai sair lá pra meia noite. As pessoas ligam a televisão e pensam que já está tudo bonitinho, mas tem uma série de técnicos trabalhando pra que tudo dê certo. No teatro é a mesma coisa. A profissão é boa, dá até pra ganhar dinheiro na medida do possível. Mas a gente tem que amar o que faz”.


Na cabine de som, longe dos olhos do público, o espetáculo ganha vida.
A atriz

Com 15 anos de carreira, Rosana ainda sente aquele "friozinho
na barriga" ao entrar em cena.
Rosana Costa, diretora artística do Teatro Tobias Barreto e integrante do Grupo de teatro Oxente há mais de dez anos, fala do teatro com olhar de quem conhece. A atriz vê com bons olhos o atual momento em Sergipe, e lembra das dificuldades e prazeres ao longo de sua carreira. “Antigamente, quem fazia teatro não tinha o que fazer, o artista era mesmo marginalizado. Hoje a gente tem mais espaço”. Durante o percurso entre as dependências do TTB, Rosana conta: “Sempre tive o incentivo da minha família, mas já cheguei a ser discriminada pela minha escolha de ser atriz.”

Apaixonada pela profissão, Rosana se diverte ao contar as histórias por trás da coxia. Para a atriz, um dos grandes marcos de sua carreira aconteceu na Paraíba, em uma montagem de “O Santo e Porca”, de Ariano Suassuna. Ela conta do nervosismo ao representar o texto diante de seu autor, que estava sentado na primeira fila: “quando o texto é de humor, a gente sempre tem a possibilidade de brincar e colocar ‘cacos’. Mas o autor estava lá, aumenta a responsabilidade de não distorcer o texto. Acabou que saiu tudo bem, ele gostou, veio falar com a gente, autografou um cartaz da peça. Foi muito bom.”

"É no camarim, à medida em que a gente vai colocando o figurino, a maquiagem...
é aí que o personagem surge", conta Rosana.

A atriz, que já atuou em espetáculos como “O Casamento Suspeitoso” e “Os Saltimbancos”, nunca recusou um papel. Afirma ainda que não teria problemas em ficar nua no palco. “Já atuei como lésbica, prostituta, homem, e já cheguei a ficar só de calcinha em cena. Não escolho o papel, é ele quem me escolhe. Se fosse preciso ficar nua, não teria problemas, desde que o nu tivesse uma intenção artística. O corpo não pode ser banalizado”.

Para Rosana, atuar no palco do TTB ainda causa algum receio. “Ele é muito imponente. É difícil ocupar um palco tão grande. Para o artista, o palco mais aconchegante ainda é o do Atheneu. Como a gente costuma dizer, o Atheneu é o ‘primo pobre‘, e o Tobias é o ‘primo rico’.”, brinca. “Mas o importante mesmo é estar no palco. A força do espetáculo é tão forte que pra alguns artistas é difícil sair do personagem. Para mim, o teatro é um meio transformador, em que eu aprendi muito.”

O espetáculo
Audry da Pedra Azul e Ezequias Carvalho interpretam Pavão Misterioso
Depois de um longo tempo de planejamento e todo um dia de montagem, eis que os esforços de todos os profissionais dos bastidores são postos à prova. Chegada a grande hora, quando as cortinas se abrem, o artista deixa de ser uma pessoa comum para incorporar seu personagem. Neste momento, meses de ensaio e dedicação encontram seu ponto culminante, o que justifica o clima de tensão. “A concepção do show é uma gestação, e a estréia é o parto”, diz Pierre Feitosa, diretor do espetáculo Seu Tipo. Nesse show, o artista Audry da Pedra Azul personifica o cantor Ney Matogrosso, dublando de forma passional algumas das principais canções de seu repertório.

Coreografias bem elaboradas envolvem o público
Quarta-feira, noite chuvosa. No palco, um artista da terra. Esse poderia ser o cenário de um show sem público ou aplausos, mas não foi o que aconteceu na noite de ontem no Teatro Tobias Barreto. Pelo contrário: Audry e sua equipe trouxeram um grande público à casa, sendo ovacionado de pé.
"Não faço plágio, e sim homenagem.
Por isso, já fui reconhecido pelo próprio
Ney, meu ídolo", conta Audry.

Nascido em São Cristóvão,
Ezequias Carvalho já dançou
ao lado de Ana Botafogo.
No repertório, canções de Chico Buarque, Cazuza, Raul Seixas e outros,      imortalizadas na voz e na performance caricata de Ney Matogrosso e imitada com brilhantismo pelo artista sergipano. Além do talento de Audry, as coreografias elaboradas pelo bailarino Ezequias Carvalho exploraram o viés dramático da obra do artista, trazendo a força da poesia e prendendo a atenção do público do início ao fim. “Para criar as coreografias eu me inspiro na música, tento interpretá-la através dos movimentos”. E completa: “Trabalho com Audry há oito anos, e o show dele é sempre muito esperado por ser um celeiro da dança aqui no estado.”

Artista, bailarinos, música e luz compõem o espetáculo
Em um show denso, composto por momentos intimistas, Audry interagiu com o público, descendo à platéia e dançando. “É muito prazeroso quando as pessoas vem até mim no final do show e dizem que gostam do meu trabalho. A gente passa muito tempo concebendo o show, ensaiando, pensando em surpresas para agradar ao público... Por isso, a alma do espetáculo são os bastidores. O show só anda quando estamos ao lado de uma equipe competente, em que confiamos.”

  
Alfredo Martins e sua esposa,
Elizabeth Almeida, deixam o teatro
satisfeitos.
A opinião de Audry se confirma na voz do público. “Todos os que contribuíram para que o show fosse feito estão de parabéns. É uma pena que não tenha mais gente pra ver. A estrutura desse espetáculo não deixa nada a desejar, pode ser levado para qualquer lugar do mundo”, diz, empolgado, o espectador Alfredo Martins. E se há a aprovação do público, última instância do ciclo do fazer teatro, é sinal de que a dinâmica dos bastidores é bem sucedida. Para mais imagens clique aqui.

No fim do show, equipe agradece ao público.

Beleza e descaso: Os dois lados do patrimônio histórico e arquitetônico de Aracaju

Palácio Museu Olimpio Campos, Praça Fausto Cardoso
Antiga Alfândega, Praça General Valadão
Por: Emily Lima, Egicyane Lisboa, Lenaldo Severiano, Liliane Nascimento e Pedro Rocha

Antiga Escola Normal, atual Centro de turismo
Há um século era inaugurado em Aracaju o prédio da Escola Normal que, com seus arcos românicos e colunas neoclássicas, representa a arquitetura que marcou aquela época e se tornou a história das épocas seguintes. Um passeio pelo centro da cidade mostra a fusão do atual e do antigo e este se dividindo entre um preocupante descaso e uma beleza que leva para outros tempos.


Varanda traseira do Palácio Olimpio Campos
 Não há como não se encantar com os detalhes do Palácio do Governo que em cada janela, cada parte parece trazer uma poesia impar, sendo até difícil acreditar que um lugar tão belo já foi utilizado para qualquer outra função que não encantar os olhos dos aracajuanos e dos turistas. Ainda assim neste palácio funcionou a sede do governo estadual, onde residiram governantes que somados deram conta de parte da história política do estado. Localizado na Praça Fausto Cardoso o prédio foi restaurado em 2007 tornando-se o Museu Olímpio Campos e agora um dos pontos turísticos mais belos da cidade.
Fachada do antigo Cine Rio Branco, Rua João Pessoa
A história se espalha pelo calçadão da João Pessoa, em muitas fachadas que são escondidas pelas placas chamativas das lojas e lembram timidamente que por ali já passaram pessoas a passeio, em direção a Igreja de São Salvador, a primeira construída na nova capital ou indo para o Cine Rio Branco, um dos mais antigos cinemas do Brasil e também um raro exemplo de patrimônio historio que foi “destombado” graças aos argumentos do então governador Albano Franco, indicando que para tombar um patrimônio, deve prevalecer a importância arquitetônica e não sua relevância histórica e cultural.


Igreja de São Salvador, cruzamento das ruas Laranjeiras e João Pessoa
Sede da OAB, Avenida Ivo do Prado
 Entre as belezas da cidade a atual sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) chama atenção pelo requinte e pelos detalhes nas janelas, nas sacadas, nas cores e na curva sinuosa da escada que mais parece um convite aos passantes. Antes ocupado pela Família Rollemberg, o prédio é uma vitrine da tradição arquitetônica do estado, fazendo menção a uma época em que os sergipanos tinham a cana-de-açúcar como o principal mantedor da economia. Outro prédio antes ocupado por residência e que data do início do século XX é a atual sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Sergipe, que antes de tornar-se órgão público foi comprado de nada menos que 22 pessoas, herdeiras do patrimônio.
Prédio do Atheneuzinho, Avenida Ivo do Prado
Em processo de reforma está o prédio Atheneu D. Pedro II, conhecido como Atheneuzinho, que foi inaugurado em 1926, tombado em 1985 e está fechado desde 1996. A reforma financiada pelo Banco do Estado de Sergipe (Banese) deve transformar a antiga escola em um centro cultural de referência no uso da tecnologia para promover, produzir e divulgar a história sergipana. O prédio deveria ter sido entregue em junho de 2010.
Entre os espaços que não recebem a atenção devida, está o da antiga Alfândega um dos mais antigos da cidade e que apesar de ter um projeto de reforma aprovado pela prefeitura continua abandonado. Esta não é a primeira vez que projetos de reforma deste prédio são encaminhados, a última tentativa data de 2010, quando o edifício foi incluído em uma seção do Programa de Aceleração do Crescimento voltada para cidades históricas.  Segundo denuncia do Jornal Cinform em julho de 2011, o prédio vinha sendo usado, entre outras coisas, com ponto de consumo de drogas, o lugar parece muito distante do que recebeu a visita de D. Pedro II e de sua esposa em 1860.
Avenida Rio Branco
Na mesma visita o imperador hospedou-se no prédio da Delegacia do Ministério da Fazenda, localizado na Praça Fausto Cardoso, esquina com a Avenida Rio Branco, nesta avenida encontram-se muitas casas que foram utilizadas para o comércio, mas que hoje se encontram fechadas e em precário estado de conservação. Esta parte da cidade, próxima do centro comercial, mas onde nada acontece, transmite uma sensação de decadência bem diferente da que era comum no início do século XX quando a avenida, antes denominada Rua da Aurora, recebeu o primeiro bonde de Aracaju.
Delegacia do Ministério da Fazenda, Praça Fausto Cardoso
Hoje Aracaju não tem mais a poesia de outros tempos, as ruas não estão mais cheias de boêmios e intelectuais cantando a beleza do lugar, as cortinas do Cine Rio Branco já não abrem e os proprietários não são mais românticos como eram. Mas na cidade em que os mais belos e os mais destruídos patrimônios se encontram, ainda há uma esperança para a cultura e para a perpetuação da história, em cada aracajuano que para a admirar a beleza de um monumento.
Detalhe superior do Palácio Museu Olimpio Campos
Mercado Thales Ferraz

12/10: Os Dias Diferentes De Um Mesmo Dia


Pelo relato de Dona Aparecida dos Santos, uma brasileira homônima da Padroeira do Brasil, foi possível comparar duas realidades diferentes de uma data emblemática, que na prática se revela como não pertencente a todas as crianças.

Por Andreza Lisboa, Daniel Damasio, Diogo Barros, Edson Costa, Fabrício Barboza e Jefferson Oliveira.

 


A cada dia 12 de outubro, feriado pelo dia de Nossa Senhora de Aparecida, também se comemora o dia das crianças. Motivadas pela folga, famílias partem para os parques, praças e praias à procura de lazer e diversão para seus filhos. Mas além desse cenário encantador,   muitas crianças passam pelo feriado sem motivos nenhum para comemorar. Com histórias de vida que se repetem, crianças vêem o dia, que em tese seria seu, passar repleto de privações e descaso.

Basta observar a história da senhora Aparecida dos Santos, residente do bairro Santa Maria, popularmente conhecida como Terra Dura, que vive em um conjunto de casas doadas pelo governo. Segundo ela, a casa é extremamente pequena possuindo apenas um quarto, que serve para acomodar sete filhos juntamente com ela e seu marido. Trabalhando como catadora, dona Aparecida aproveita os fins de semana e feriados para pedir esmola na praça Hermes Fontes, já que o complemento de R$ 166 oferecido pelo Bolsa Família, programa assistencial do Governo Federal, torna-se insuficiente para sustentar todos da sua casa.


Dona Aparecida ressalta só atuar como pedinte nos dias em que as crianças não têm escola e que, em hipótese alguma, não expõe seus filhos durante a mendicidade. Infelizmente, nem todas as informações fornecidas por dona Aparecida podem ser consideradas confiáveis, já que as câmeras capturaram o momento em que seus filhos iam à porta dos veículos e se arriscavam em busca de míseras moedas dos motoristas.

Outro casal entrevistado foi Israel Vieira da Conceição e Maria de Fátima dos Santos, que possuem um relato de vida muito próximo com a da primeira entrevistada. Só que, quando questionado sobre o porquê seu Israel, um homem em torno de seus 30 anos, não procura um emprego que lhe pague melhor, que o prive de estar atuando como pedinte, ele responde enfaticamente. " Já tentei, mas não dão emprego para pessoas que moram muito longe do centro da cidade, e mais especificamente para quem mora na Terra Dura", diz. Contudo, foi possível notar um tom de desinteresse na resposta de Israel, o que representa, talvez, o real motivo por trás da sua apatia em busca de uma nova perspectiva de vida.


Dura realidade

É dia 12 de outubro de 2011. Encontramos a personagem que abre essa reportagem, Dona Aparecida, em um canteiro próximo à rótula da Avenida Hermes Fontes, que dá acesso a um dos bairros mais nobre da cidade, o Jardins. Aparecida dos Santos, a matriarca, rodeada de filhos e netos, conta parte de sua história se abrigando na sombra de um sol causticante.

Dentre os filhos e netos de Aparecida, uma das crianças mostrava possuir melhor iniciativa e habilidade para abordar os motoristas. Aliás, muitos dos condutores paravam perto do canteiro já com a intenção de doar doces e brinquedos  às criancas, que sempre se prostravam na frente dos veículos.  Mas mesmo quando a criançada desistia da empreitada, a filha mais 'habilidosa' de Aparecida ia para o meio do asfalto, em pleno meio dia, disputando espaço com os outros carros, e insistia no pedido até para os carros com os vidros da janela fechados. A cena era contemplada pela dona Aparecida, e sua filha mais velha, mãe de alguns netos, que ficavam inertes à sombra de uma árvore do local.

No canto de uma árvore, um saco guardava todos os presentes recebidos pelas crianças naquele dia. A filha de Aparecida, aquela que pedia com mais 'habilidade' e 'destreza', manipulava a boneca que foi presenteada, mas parecia estar mais preocupada em guardar os pães dados pelos motoristas. O mais novo dos filhos pede à menina um dos pães que ela guarda, porém, sem muito cuidado, ele deixa o pão cair no meio da calçada imunda, mas o pega e come sem causar nenhuma comoção a sua família.

Feriado de diversão

É dia 12 de Outubro de 2011. Agora, o cenário é diferente do que foi visto anteriormente. No Parque da Sementeira, no bairro Jardins, várias famílias se reúnem para comemorar o dia das crianças. Os brinquedos são tomados por elas, que em sua maioria estão muito bem limpas e arrumadas. Sob o mesmo sol causticante, muitas aparentam estar cobertas com bastante protetor solar, afinal a maioria delas tem a pele muito clara.

A grande quantidade de automóveis de luxo no lado de fora do parque sugere, que muitas das famílias presentes possuem um alto poder aquisitivo. Inclusive, os números da economia mostraram que espera-se um aumento na venda do setor de brinquedos motivadas unicamente pelo feriado.

Direito às crianças
A data 12 de outubro foi escolhida como dia das crianças, por ser o dia da oficialização da Declaração Universal dos Direitos das Crianças, criada pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Dentre os vários princípios contidos na declaração, o de número nove diz: “Não se deverá permitir que a criança trabalhe antes de uma idade mínima adequada; em caso algum será permitido que a criança dedique-se, ou a ela se imponha qualquer ocupação ou emprego que possa prejudicar sua saúde ou sua educação, ou impedir seu desenvolvimento físico, mental ou moral.” Certamente o estado de pedinte em meio ao risco do trânsito, visando o sustento da família, é uma transgressão a esse direito.

Aparecida, curiosamente, tem o mesmo nome da santa católica que motiva o feriado. Mas não demonstrou estar num dia festivo. Ao contrário da santa homônima, passava despercebida no meio da Avenida com suas muitas crianças e sendo ela não a motivadora, mas sim o alvo da caridade alheia. 

 
       

A infância é tudo para uma criança

Dia das Crianças na Orla de Atalaia mostra como juntar educação, respeito à infância, cidadania e diversão

Por: Alanna Molina, Ana Carolina, Bárbara Costa, Hugo Fernando e Larissa karoline

Prefeitura de Aracaju promove o Dia de Todas as Crianças na Orla de Atalaia
O 12 de outubro é um feriado nacional, em comemoração ao dia da Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Apesar de ser uma data importante para os religiosos, as crianças tem outro motivo para comemorá-la: é também o dia delas! É dia em que elas ganham presentes de seus familiares, saem para curtir os muitos eventos que lhes são oferecidos e, além de todo o capitalismo envolvido, é o dia de lembrar a todos que crianças também têm direitos, não apenas deveres, e que esses devem ser respeitados. 

Menina se diverte
cantando no karaokê
Nesta data, o Governo de Sergipe e a Prefeitura de Aracaju, com o apoio do Banese, programaram O Dia de Todas as Crianças. Um dia de diversão e aprendizado para a criançada e sua família, realizado na Orla da Atalaia. O evento aconteceu perto dos Arcos da Orla, e houve muita diversão: karaokê para que elas soltassem a voz; mesinha com lápis e giz de cera para elas pintarem e desenharem; painel onde elas poderiam colocar suas mãos e outro para que elas escrevessem seus nomes. Picolé e água foram dados para os participantes. Nada como um bom sorvete pra refrescar um dia quente e cheio de traquinagens. 

Desenhos das crianças foram
pendurados num cordão
O intuito foi promover a educação e princípios da cidadania através de atividades lúdicas. O que não faltaram às crianças foram opções de como se divertir aprendendo. De 9h até às 17h foram distribuídos materiais contra bullying, abuso e exploração sexual infantil, pedofilia e o uso de drogas, e aconteceram apresentações teatrais, além de oficinas culturais com papel e pipas, desenhos, reciclagem, entre outros. 
Circo para animar a criançada


Direito de criança não é brincadeira

Menina super concentrada no teatrinho.
Um dos principais direitos que as crianças têm é o de brincar. Esse é um direito de extrema importância no crescimento de uma criança, pois a infância deve ser a fase da vida em que ela desenvolve a interatividade e a educação, além da criatividade que deve ser estimulada em todos os “pequenos”. Contra isso vem o trabalho infantil, a exploração sexual e a falta de acesso à educação. Na própria constituição, mais precisamente no Artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, fica claro o que se deve oferecer à criança: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”. Com esses princípios respeitados garante-se à criança a segurança e a liberdade para aproveitar o que tem de melhor na sua infância. 
Declaração dos Direitos das crianças.

Apresentação do grupo Pare! que discute a questão das drogas.

A partir do incentivo aos direitos das crianças foram promovidas todas as atividades na Orla de Atalaia. O Grupo Teatral Alternativo Pare!, que combina teatro e linguagem corporal, inspirado pelo Cirque du Solei,  teve três apresentações na quarta-feira: "Não Toque", que traz a questão da família e das drogas, "Papai do Céu", que discute o abuso, e "Uma história trágica com final feliz", cujo assunto é o bullying.
Desde 2006 juntos, Isabella, Patrick, Priscila e Leandro já apresentaram peças para crianças em outros municípios e foram convidados pelo Ministério Público para participar do evento na Orla. Eles explicaram que suas apresentações não são voltadas apenas para as crianças, mas são direcionadas principalmente para os pais e familiares: "O que nós queremos é despertar a consciência das pessoas", disse Isabella.
Grupo Pare! tirando foto com crianças.



Mas a brincadeira continua... 

Parquinho da Orla também foi uma opção para diversão no Dia das Crianças
A criançada se esbaldou em tanta opção de diversão. Jogos como dama, dominó e xadrez; brinquedos infláveis, camas elásticas, futebol de sabão e cinema 6D; brinquedos elétricos como carrinhos, mini bugres e motos elétricas fizeram a diversão da garotada no dia delas. E ainda o parquinho da Orla também garantiu a brincadeira nas gangorras, balanços e outros brinquedos.
Garoto se diverte num passeio de bicicleta pelo calçadão 
A brincadeira contagiava até os adultos que se renderam aos brinquedos e aproveitaram para relembrar um pouco do espírito de ser criança. Para os que queriam relaxar com seus filhos, ainda tinham os laguinhos da Orla e o calçadão para passeios de bicicleta, patins e skate.
Adultos também têm direito à diversão num passeio de patins


Para  ver mais fotos do Dia das Crianças na Orla, clique aqui.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Aracaju foi palco da 8ª etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia


De 5 a 9 de outubro, a Praia da Atalaia foi o espaço do duelo entre as melhores duplas de vôlei de praia do país. Fora da arena, ambulantes travaram um duelo com os fiscais da prefeitura para poder vender bebidas e salgados.


Por Roberto Aguiar, Luiza Cazumbá, Eduardo Ferreira, Mateus Alves e Shayne Coelho

Desde 2008, Aracaju não sediava uma etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia 

Depois de três anos, Aracaju voltou a sediar uma das etapas do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia (CBVP). O evento foi realizado do dia 5 a 9 de outubro, nas areias da Praia da Atalaia, na Avenida Santos Dummont, em frente à Passarela do Caranguejo.

Aracajuanos assistiram todos os jogos gratuitamente. 

Sob um sol escaldante, a 8ª etapa do CBVP reuniu os melhores jogadores de vôlei de praia do país. Todos os dias, a arena foi ocupada por um animado público de diferentes faixas etárias. Comerciantes e publicitários também aproveitaram o evento para faturar dinheiro, mesmo que em proporções diferentes.

Os grandes patrocinadores tinham suas marcas estampadas em todos os espaços do evento, incluindo os uniformes dos jogadores. De acordo com a assessoria de comunicação da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), pagou-se à Prefeitura Municipal certa quantia em dinheiro para o uso do espaço na praia, logo a organização determinou quem podia vender comida e bebidas dentro e aos arredores da arena.

Muitos ambulantes foram impedidos de realizar vendas próximo ao espaço do evento. Dentro, apenas dois vendedores autorizados, uma delas era Catiane Menezes, 42 anos, que estava comercializando refrigerante, água, salgados e energéticos.

Quiosque de Catiane Menezes localizado dentro da arena.

Os ambulantes impedidos de vender estavam insatisfeitos com a situação. O senhor Antônio dos Santos, 51 anos, vende refrigerante e cerveja na orla há 20 anos, não pôde ficar em seu tradicional ponto de venda. Os fiscais da prefeitura os obrigaram a transferir seus carrinhos para o outro lado da Av. Santos Dumont.

Antônio dos Santos foi obrigado a colocar seu carrinho de vendas no outro lado da avenida.

Enquanto isso, rapazes e moças, uniformizados por uma empresa patrocinadora do CBVP, passavam protetor solar nos torcedores que chegavam ao espaço para ocupar as arquibancadas. Dentro da arena, as animadoras realizavam brincadeiras com o público e como prêmio entregavam uma camisa oficial do evento com a logomarca do Banco do Brasil, o maior patrocinador do CBVP.

Empresas patrocinadoras do evento buscaram forma criativa para chamar atenção do público.


Animadora distribui camisas do CBVP aos torcedores. 

Lá fora, Elaelson dos Santos, 49 anos, tentava fugir da vista dos fiscais da prefeitura e vender água de coco. “Estou desempregado há seis meses. Então resolvi vender água de coco na praia. Preciso sobreviver”, disse Elaelson.



O dinheiro obtido com a venda da água de coco é a única renda de Elaelson dos Santos

Assim foram esses cinco dias de evento. Disputa fora da arena (vendedores ambulantes) e dentro da arena (jogadores). A resistência dos ambulantes valeu para ganhar o sustento da família e a resistência dos jogadores foi fundamental para apresentar ao público aracajuano um lindo espetáculo esportivo.

Batalha na arena
A palavra arena surgiu para definir o espaço coberto de areia, no centro dos anfiteatros, onde combatiam os gladiadores. O espaço era cercado de fileiras de assentos de pedra, que se elevavam em arquibancada. A forma da arena era geralmente oval. O nome arena, que em latim significa areia, derivou da prática de espalhar areia no piso, para absorver o sangue dos gladiadores feridos pelas feras.


Corredor de acesso à arena.

No CBVP o combate se dá na arena. Os gladiadores combatem em duplas, divididos por uma rede e no lugar das feras, a bola é a vilã da vez. O espaço continua cercado de fileiras de assentos que se elevavam em arquibancada, agora não mais de pedra. Os ferimentos não são mais arranhões de leões ou outros felinos, mas ocasionados pelo atrito com a areia na busca de não deixar a bola cair ao chão.


A 8ª etapa do CBVP foi marcada por disputas acirradas.
 No domingo, 9, a arquibancada ficou completamente lotada. 

O público vibra com o mesmo entusiasmo dos velhos romanos nas antigas arenas. A cada jogada espetacular, gritos e ‘ondas humanas’ sincronizadas sacodem a arquibancada. Tambores, buzinas e outros instrumentos sonoros são usados para animar a festa. O clima praieiro e o sol ardente confirmam que estamos em uma arena moderna, com regras diferentes, novos juízes, porém com o mesmo e velho objetivo: vencer.


Torcedores proporcionam uma animada festa na arena. A 'onda humana' agitou a arquibancada.
No masculino, quem subiu ao degrau mais alto do pódio na arena aracajuana foi dupla formada por Bruno e Billy Schmidt. Eles venceram Tiago e Jefferson por 2 a 0, com parciais de 21/12 e 22/20. Foi o primeiro título da dupla na etapa 2011. A medalha de bronze ficou com Beto Pitta e Lipe, que superaram os cariocas Oscar e Evandro, por 2 a 0 (21/19 e 21/13).

No feminino, sagrou-se campeã a dupla Talita e Maria Elisa que derrotaram Val e Shaylyn por 2 a 1, com parciais de 18/21, 21/15 e 15/9. Desta forma, a parceria diminuiu a diferença para as líderes do ranking Juliana e Larissa. Agora, Talita e Maria Elisa somam 2.680 pontos, contra 2.920 das primeiras colocadas. O terceiro lugar ficou com a dupla Maria Clara e Carolina que derrotaram Taiana e Vivian por 2 a 0, com parciais de 21/19 e 21/17.


Dupla Emanuel e Alison.

A próxima etapa do CBVP será realizada em Maceió/AL de 26 a 30 de outubro. Você pode acompanhar o calendário e resultados das etapas no site da CBV.


Galeria de Fotos