por André Teixeira
Lembre-se
daquela frase da Karl Marx: “A Força é a parteira do Progresso”.
Ele poderia ter acrescentado [...] que o Progresso é a parteira da
Força. Duplamente a parteira, pelo fato de que o progresso
tecnológico fornece aos homens os instrumentos de destruição cada
vez mais indiscriminada, enquanto o mito do progresso político e
moral serve de pretexto para o uso desses meios até o último
limite.
Aldous
Huxley, em 'O macaco e a essência”
Carmópolis/SE, de cima. A imagem - cavalos mecânicos para prospecção de petróleo, obtida via Google maps, foi apresentada no trabalho da Profª Gicélia Mendes da Silva. |
Quando o ensaísta norte americano Henry David Thoreau escreveu “A vida nos bosques”, não
sabia que lançava a pedra fundamental dos movimentos ecológicos do século
XX. O livro é um manifesto poético que confronta o modelo da
sociedade industrial. Publicado em 1854, antecipa em mais de um
século o que hoje é muito mais que uma tendência e não apenas uma
pauta constante na mídia, mas sim uma urgente necessidade: a de aprofundar a discussão acerca dos problemas relacionados ao meio
ambiente provocados pela má condução desse modelo e seu reflexo
negativo na vida em seus diversos aspectos.
Auditório cheio na abertura do EICA, que contou com representantes dos realizadores e apoiadores do evento. |
'Pescador visto de cima'. Confira a galeria
de fotos da exposição 'A cidade, os seres
e o ambiente': http://migre.me/4iI7I
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Nesse intuito vieram ao Sergipe professores, mestres, doutores e pesquisadores de diversas áreas: jornalismo, marketing, publicidade, audiovisual, educomunicação, serviço social, economia, ciências sociais, educação. Foram discutidos os temas Comunicação ambiental de risco: a questão do petróleo, Percepções e imagens do meio ambiente na mídia, Discursos sobre o desenvolvimento sustentável e Ambientalismo, consumismo e marketing verde, debatidos em mesas redondas no 2º dia, além de quarenta trabalhos selecionados para explanações orais que visaram discutir a problemática ambiental pelo viés de como a mídia trata o assunto, de como a comunicação em suas diversas vertentes (marketing, publicidade, jornalismo, etc) se inserem nesse contexto, no último dia.
No que tange a organização do Encontro, todos os louros para os responsáveis. No sentido estrito dos termos propostos, o EICA atingiu plenamente seu objetivo. No sentido amplo, no entanto, careceu do mal que aflige Palestras, Congressos e afins: o tempo exíguo para assimilação das muitas informações importantes para profundas reflexões.
Mesa que debateu a Comunicação ambiental de risco: a questão do petróleo: Nilton Marlúcio de Arruda, Sonia Aguiar, Ana Cristina Machado e Gicélia Mendes da Silva, uma das autoras do trabalho "Petróleo, Royalties, e Pobreza". |
Os
vários discursos, quer das mostras de foto e vídeo, ou na fala dos
palestrantes e debatedores dos três dias do evento - das quais destaco a da Profª Drª Gicélia Mendes da Silva, sobre os royalties do petróleo e seus reflexos sociais em Sergipe, fizeram coro às
palavras do Prof. Dr. Carlos Walter Porto-Gonçalves, que proferiu a conferência de abertura, “O papel da informação e da comunicação
em tempos de neoliberalismo ambiental”.
Wesley Pereira de Castro, aluno da UFS que escreveu ótimo texto sobre a palestra do professor Carlos. |
Um dos principais dilemas é o de como a imprensa silencia e os meios de comunicação não tratam das questões com a devida profundidade, de forma a manipular (direta ou indiretamente) a informação. Para exemplificar disse que “Discute-se muito o efeito estufa mas não se discute a causa do efeito estufa”. Disse também que a última contabilização dos números referentes a disputas territoriais no Brasil somam 880 conflitos, dos quais o MST não é responsável pela maioria. "Por que essa informação não está na grande mídia”.
Vídeo disponibilizado por Elaine Casado
Paradoxo: “Por que se tem uma devastação tão intensa no momento em que tanto se fala em salvar o planeta. A gente tem um dilema: parece que não é o planeta que está se beneficiando do discurso de salvação do planeta” Carlos Walter Porto-Gonçalves
Sobre esse grande ou parcial silêncio, que é alimentado pelas corporações que pautam - quando não são os locadores dessas novas cavernas de Platão - a indústria midiática, peço emprestado ao sociólogo francês Michel Maffesoli, considerado um dos fundadores da sociologia do cotidiano, um parágrafo do seu livro "Saturação":
"Na corte dos imperadores bizantinos, existiam os silenciadores oficiais. A função deles era fazer calar os perturbadores de toda ordem, para que reinasse apenas o pensamento estabelecido. Para usar palavras contemporâneas, trata-se da conspiração do silêncio, descartando insidiosamente todas as análises que lembram que não se saberia reduzir o grande desejo de viver, em seu aspecto qualitativo, à mesquinha necessidade em seus limites quantitativos."
Mas, em tempos das redes e mídias sociais, do ativismo ambiental e político de blogueiros isolados ou em grupos, da convergência midiática na prática, dos canais alternativos para se obter informação, cega-se muitas vezes pela certa conveniência dos comodismos hodiernos. Como bem o disse Saramago, “Penso
que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos
que, vendo, não vêem”. Só numa sociedade orientada por esses valores é que pais levam seus filhos menores para tomar banho em águas ridiculamente entupidas com seus próprios coliformes fecais, no fim-de-semana-padrão-dos-trópicos. Só uma sociedade orientada pelo sucesso do capital aceita passiva a cumplicidade no assassinato de milhares de brasileiros, ano a ano, pela faca invisível do enxofre contido no DIESEL nacional, cujo índice é 50 vezes maior que o padrão internacional. Em 2009 deveria ter sido feita a adaptação de carros pelas montadoras e do combustível pela Petrobras. Mas uma liminar prorrogou o prazo por mais alguns anos. Sobre o assunto jornalista Clóvis Rossi, escreveu o texto "A gripe, o enxofre, o bolso, a vida". onde arremata: "Então, tá. A vida não é nada. O lucro é sagrado."
Além dos saberes interdisciplinares, vemos como necessário, para desanuviar essa cegueira perenizada pelos atuais silenciadores oficiais, lançar mão de um entendimento holístico para que se perceba que essa visão antropocêntrica, norteadora da sociedade indústrial capitalista - entrópica por natureza, só levará o homem cada vez mais rápido ao seu fim como espécie.
Recomendo a leitura do excelente artigo “EIXO DE DESENVOLVIMENTO = EIXO DE DEVASTAÇÃO E CONFLITO”, sobre a palestra do Prof. Dr. Carlos Walter, de autoria do colega Wesley PC, postada no blog Comunidade Gomorra:http://gomorra69.blogspot.com/2011/04/eixo-de-desenvolvimento-eixo-de.html
ResponderExcluirPuxa, nem sei por onde começar: pela ratificação dos louros aos organizadores do evento, de fato, mais do que merecedores de nossos parabéns sinceros; pelo agradecimento lisonjeado de minha parte, no que tange a esta citação tão carinhosa; na pertinente exaltação intelectual que me tomou de assalto diante de tuas pertinentes menções ao Henry David Thoreau e ao José Saramago, aqui reimortalizado numa citação genial...
ResponderExcluirPuxa, André camarada, por que não me apresentaste a este 'blog' antes?! E sim, de fato, somos vítimas e retroalimentadores do dilema supracitado e tão desalinhavado... Uma crise de cegueira disfarçada de multi-ocularidade midiática que ainda renderá muitas discussões relevantes (como esta, por exemplo), mas, que, infelizmente, tendem a ser silenciadas pelo vil metal... Pena!
Muito obrigado pela citação tão digna num texto tão percuciente, obrigado de coração.
E sigamos lutando, sempre e sempre!
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